Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Alex Ribeiro

Um dia fui criança
Que corria, que brincava
Que sorria a inocência
Nas coisas simples do meu dia

Um dia fui criança e não sabia
Do mundo que me esperava
Enquanto crescia, crescia…

Tantas obrigações vieram
Com os números de minha idade
Tantos sonhos não cabiam
Nas páginas da minha agenda

Eu era uma criança
E não sabia
O mundo me cobrava e
Eu sofria, sofria

E então viver é ser pontual
Cumprir à risca o ritual
Acordar, correr, trabalhar
Correr, almoçar, correr
Trabalhar, correr, descansar

Então corria para viver
Vivia para correr
Corria para sempre trabalhar
E vivia trabalhando

Ai de mim um pequeno atraso
Ai de mim um erro repentino
Ai de mim reclamar das horas de
Trabalho, trabalho, trabalho…

Eu sou criança e não sabia
Que o trabalho acaba
Com nossa vida singela
E suga nosso tempo,
Nossa saúde
Até deixar-nos tão sós
Tão anônimos, tão sós…

Um dia irei morrer
Um dia perderei tudo
E me substituirão no trabalho
E serei esquecido
E tudo será em vão

E serei de novo criança
Que brinca no chão
Sem obrigação, sem exigência
Sem o que me tira a existência.

Publicado em Categorias Cultura, Teatro

Encontra-se em cartaz no Teatro Garagem, SESC, na 913 Sul, o belo espetáculo ENTRE CRAVOS & LÍRIOS, direção e dramaturgia de Lidiane Araújo, no palco, Ana Vaz e Denis Camargo. Podemos dar a este espetáculo o subtítulo de “uma lição de humanidade”, tamanha a sua capacidade de nos envolver e de nos remeter àquilo que é a essência do humano, o sentir plenamente o outro. Óbvio que, diante das correrias dos tempos modernos, esta atitude está um tanto comprometida. Usamos a linguagem das redes sociais para nos comunicar, longe do olhar e do sorriso do outro, e desprezamos, assim, tantas outras formas mais sutis e profundas que aproximam os seres humanos e os fazem dar sentido à própria vida e, pasmem, à vida do outro. É isto que o espetáculo quer nos dizer. Que o ser humano nasce da terra, de suas profundezas, e o palhaço se expõe seriamente diante dos risos como forma de nos avisar de onde viemos e o que somos. O espetáculo, poeticamente, nos escancara. Ana Vaz e Denis Camargo dão um show de interpretação, comoventes. Indicamos o espetáculo, hoje, dia 10 de março, é a última apresentação, vez que grupo está indo se apresentar em Belo Horizonte. Entre Cravos & Lírios é destes espetáculos que ficarão em nossa memória por muito tempo. Por isso, simplesmente imperdível.

 Cia de Teatro Assisto Porque Gosto

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

Cyrano de Bergerac é uma peça de teatro escrita por Edmond Rostand, que teve sua estreia aos 27 de dezembro de 1897, na França. O personagem principal, que tem o mesmo nome da peça, foi inspirado no escritor francês Hector Savinien de Cyrano de Bergerac, que viveu no século XV. A peça foi montada com surpreendente frequência, a ponto de Cyrano passar a ser um personagem do universo popular francês, uma vez que o personagem traduzia os valores daquele povo que, consequentemente, passou a se identificar com o nosso protagonista. Houve também montagens teatrais e adaptações para o cinema que circularam pelo mundo em todo o século XX. No Brasil, Cyrano ocupa os palcos tupiniquins a partir de 1909 e, a partir de então, nunca mais se separa deles. Cyrano de Bergerac é, com certeza, um dos personagens mais interessantes que a literatura teatral já nos presenteou.

Cyrano é um exímio espadachim e poeta, repleto de valores e dono de um carisma sem igual. Ao mesmo tempo que arranca aplausos de quem escuta suas belas palavras, em versos, criadas por esse poeta de espirituosidade ímpar, demonstra humildade e benevolência com o povo mais simples que o cerca.  Sua natureza era, ao mesmo tempo, selvagem e doce, de uma pureza poética e de uma força virtuosa. Quem quer que o visse poderia imaginá-lo um homem capaz de conquistar o mundo, porém, havia nele um ponto por onde toda a sua virtude se esvaía, pois achava-se feio e, por isso, incapaz de ser amado.

O avassalador Cyrano se vê apaixonado pela bela Roxana, a jovem mais linda em que seus olhos poéticos já puderam repousar. E que amor toma conta de Cyrano! Porém, sua musa já está enamorada de outro, o belo e vazio Cristiano. Que, aliás, também fazia parte do regimento do nosso poeta. Após os dois travarem forte amizade, Cristiano pede ajuda a Cyrano para conquistar Roxana.

É então que o apaixonado Cyrano abre mão do seu amor para ver a felicidade da amada. Fala e escreve a ela em nome do seu rival e amigo Cristiano, deixando Roxana perdidamente apaixonada por ele. Ela ama a Cyrano, sem saber, na pessoa de Cristiano. Em meio a essa complicada história de amor, uma guerra acontece, e entre batalhas e versos, Cyrano triunfa no ápice do seu amor por Roxana. Cartas repletas de amor avassalador partem do campo de batalha, assinadas no pseudônimo Cristiano.

Cyrano sobrevive, Cristiano morre em batalha. Seria a oportunidade para que enfim o amor fosse revelado, mas nosso herói mantém o segredo até os últimos instantes. Agora, passados os anos, enfraquecido, na miséria e com muitos inimigos, os quais nutriam por ele ácida inveja, Cyrano visita a viúva Roxana todas as tardes, que ignora o sentimento secreto do nobre amigo. Quanta força para guardar um segredo! Quando Roxana descobrir, já será tarde demais.

Cyrano de Bergerac é acima de tudo um personagem incrível, que tem em torno de si uma belíssima dramaturgia. Ao ler e assistir a personagem como esse, podemos resgatar em nós o que temos de mais valoroso em nossa humanidade. Cyrano está num nível acima dos conflitos, das misérias, das desgastadas relações que se estabeleceram entre nós, homens e mulheres do século XXI. Cyrano de Bergerac não é nenhum santo, pelo contrário, é demasiado humano e, por isso, humanamente sublime. Por essa razão, caro leitor, que o teatro é de fundamental importância. Ele nos faz ver que para sermos melhores não precisamos ser perfeitos ou divinos. Precisamos apenas sermos quem somos. Humanamente nós mesmos.

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.