Tambores na Noite

Por Alex Ribeiro

Tambores na Noite é a segunda peça escrita por Brecht, datada de 1918. A peça conta a história de Kragler, um ex-combatente que acabara de retornar à Alemanha, depois de passar quatro anos desaparecido na África. Nesse tempo, sua noiva Anna se envolve com Murk, de quem fica grávida. A família de Anna incentiva a união dela com Murk, tendo em vista que ele é industriário e que o casamento poderia vir a salvar as finanças da família.

Na noite de noivado entre Murk e Anna, Kragler regressa e vai à casa daquela que há quatro anos anseia por ver. Anna não está, foi comemorar o seu novo noivado com a família, em outro lugar. Kragler, que ainda não sabe de nada, vai atrás de sua amada e a encontra ao lado do novo noivo, com toda a família bêbada. Vendo a possibilidade de Anna querer ficar com o seu primeiro amor, os pais dela, juntamente com Murk, destilam cruel humilhação à Kragler.

Convencido de sua ruína, Kragler vai embora e se instala numa taverna de periferia. Lá incita os presentes a se juntar à revolta espartaquista, que estava em plena atividade na Alemanha, naquele ano. Todos aderem ao chamado de Kragler, porém, ele é o primeiro a declinar quando encontra Anna pelo caminho, ela que estava a sua procura.

Dentre as peças de sua autoria, esta é a de que Brecht menos gostava. E quando olhamos para o teatro que ele se propôs a fazer, podemos entender a razão desse desgosto. Brecht era muito politizado e acreditava que o teatro deveria ser usado para conscientizar o público.

Sendo esta a sua segunda peça, podemos perceber que a inexperiência de autor o levou a se frustrar no seu objetivo maior. Após ir para o palco, as reações favoráveis da classe burguesa e da parcela conservadora da população deixaram Brecht ainda mais desgostoso.

Talvez, pensamos nós, Brecht tenha deixado escapar o seu objetivo apenas ao final da peça, quando Kragler prefere a cama às armas. Isso acabou por desenhar o final feliz do casal apaixonado. Talvez, em outros tempos, já com mais experiência, Brecht teria colocado no palco um Kragler mais crítico e digno. Tal postura daria força ao personagem, depois de toda a humilhação que recebera da família da sua amada. Kragler deixou todos na mão, seus companheiros e o próprio Brecht. A paixão pode nos levar a caminhos que não imaginávamos. E este pode ser um caminho obscuro. Mas quantos de nós não faríamos o mesmo?

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.

Autor: Alex Ribeiro

Ator da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto, psicólogo, poeta.

Deixe um comentário