O Beijo no Asfalto

Por Alex Ribeiro

O Beijo no Asfalto é uma peça de Nelson Rodrigues, que teve estreia em 1961, no Rio de Janeiro. A peça é rica em dramaturgia, tensão e revelações inesperadas. Já foi montada inúmeras vezes e conta com um belo filme, onde temos a atuação marcante de Ney Latorraca, como Arandir, e Cristiane Torloni, como Selminha, sua esposa. Atualmente, Murilo Benício está na direção do remake que entrou em processo de montagem no ano passado, e terá no elenco Lázaro Ramos como Arandir e Débora Falabella como Selminha.

A peça mostra a tragédia de um homem comum, Arandir, que vê sua vida se transformar de uma hora para outra, graças a uma imprensa famigerada, quando um repórter presencia um ato inusitado, o beijo que Arandir deu no homem que estava ali, moribundo, após ser atropelado por um lotação, em plena Praça da Bandeira.

Nelson Rodrigues, que também trabalhara na imprensa, constrói um jornalista malandro, o Amado Ribeiro, que cria estórias para fazer o seu jornal vender. Esse é o grande azar de Arandir, ter como testemunha do seu ato inesperado um jornalista inescrupuloso. Apoiado por um delegado truculento e manipulável, o jornalista transforma o ato de Arandir em crime.

Vale lembrar o quanto esta tragédia tem um significado especial para nós brasileiros, nos dias de hoje. Ela traz questões que são discutidas com bastante freqüência, entre elas, o papel que a imprensa e as mídias ocupam no cenário político brasileiro, seu vezo persecutório, suas manchetes manipulativas, a falta de escrúpulo ao se distanciar da verdade. A criminalização antecipada parece ser o principal o objetivo.

Há inúmeras outras questões que o texto acaba por revelar, dentro da sutileza de cada personagem. É como se Nelson Rodrigues nos apresentasse, em cada personagem, uma representação de uma parte dos brasileiros, numa construção quase arquetípica. E é por isso que O Beijo no Asfalto ainda continua tão atual.

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Autor: Alex Ribeiro

Ator da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto, psicólogo, poeta.

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