O Arquiteto e o Imperador da Assíria

Por Alex Ribeiro

O Arquiteto e o Imperador da Assíria é uma peça do dramaturgo espanhol Fernando Arrabal, que foi encenada no Brasil, pela primeira vez, em 1970. Conta a história da convivência de dois homens bem diferentes. O arquiteto, único habitante de uma ilha deserta, e o imperador, o único sobrevivente de um desastre aéreo, que acaba parando na ilha em que o primeiro vive.

As relações ambíguas de poder que se passam entre os dois personagens da peça é uma característica muito presente nos textos de Arrabal. Ao tempo em que um personagem assume a postura de opressor, logo na sequência pode estar subordinado à opressão do outro. Essa é uma das características que compõe o que é chamado de Teatro Pânico, teatro este sobre o qual Arrabal exerce forte influência.

Tentar explicar a peça ou refletir sobre ela pode ser um caminho perigoso, pois se trata de uma peça que, devido a sua intensidade sensitiva, tem o grande poder de deixar o espectador anestesiado. Mas, mesmo assim, vamos arriscar traduzir essas sensações e intuições que o texto provoca.

No texto, aparenta estar presente, na forma de metáfora, a própria evolução civilizatória do homem e suas contradições. Vemos no Arquiteto características do homem primitivo, que está em íntima ligação com a natureza, que ainda não se organizou em sociedade e não sistematizou códigos de conhecimento e de conduta. Sua vida é guiada pelo conhecimento intuitivo e pelo instinto.

O Imperador seria a metáfora do homem civilizado que estabeleceu leis e valores sobre as coisas e que foi se afastando do instintivo em direção ao que é racionalizado. Nele estão presentes os vícios que a vida civilizada trouxe, assim como sua forma de se relacionar com o outro e com a natureza.

Acontece que características tão antagônicas não geram conflitos na peça. Pelo contrário, elas coexistem, e de certa maneira se complementam, levando ao extremo a condição de ambiguidade nos personagens, que muitas vezes chega a ser doentia. É o humano, naqueles personagens, revelando suas contradições.

O extremo em que se mostram as situações dos dois personagens, tais como seus jogos de interpretação e seus fantasmas internos, é o que pode levar o texto a se encaixar no Teatro Pânico. Tentar entender de forma racional esse texto exige muito esforço, e com certeza um esforço em vão. É uma peça para se sentir e depois voltar para casa e tentar entender o que todas aquelas sensações querem dizer. Talvez seja isso que cause pânico. Descobrir em nós a possibilidade do absurdo humano. E mais. Um absurdo codificado.

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Autor: Alex Ribeiro

Ator da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto, psicólogo, poeta.

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