Horácios e Curiácios

Por Alex Ribeiro

Os Horácios e os Curiácios é uma peça de Brecht, que conta, de forma alegórica, o que aconteceu em Roma, na chamada guerra dos trigêmeos. Na peça, Brecht divide cada um dos três irmãos, lutando contra si, como se fossem agrupamentos de guerreiros: arqueiros, lanceiros e espadachins.

Como acontecido na guerra dos trigêmeos, dois dos Horácios morrem em batalha, e o terceiro se vê sozinho contra os demais. Porém, estando os sobreviventes Curiácios muito feridos e já cansados, o triunfo é dos Horácios.

Na história de Brecht, os Curiácios pretendiam tomar as terras e minas dos Horácios e convocaram seus exércitos para a invasão da terra vizinha. Eles tinham em mãos as melhores armas e seus guerreiros foram felizes nas primeiras batalhas, mas a um alto custo, visto que os Curiácios saem feridos dessas batalhas. Dois Horácios morrem, no entanto, o terceiro Horácio, poupado de ferimentos, vence um a um os Curiácios.

Tal peça nos faz lembrar o que aconteceu no Brasil, nas eleições de 2014. O país rachou-se em duas grandes massas que se digladiaram pelas redes sociais, mesas de família e demais encontros sociais. Ao fim, já no limite da batalha, um dos lados conseguiu uma reviravolta surpreendente. Isso não significou paz para o país, e muito menos que as coisas ficariam tranquilas para os “Horácios brasileiros”.

Agora, a menos de um ano da próxima eleição presidencial, nos perguntamos se novamente haverá um acirramento entre as facções políticas instauradas. Tombou-se o vitorioso nas urnas, mas tombou-se também o representante mor da oposição. Aonde chegaremos a partir de 2019? Brecht infelizmente não aponta o que se sucede após a batalha, mas nós pudemos sentir na pele o esfacelamento moral da nação. E agora? Conseguiremos uma reviravolta “horaciana” que nos traga de volta, nos próximos anos, o equilíbrio do bom senso? Será nossa missão.

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Autor: Alex Ribeiro

Ator da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto, psicólogo, poeta.

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