Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Jackson Melo

É domingo
E todos já estão de pé
Logo pela manhã
Algo está errado?
Não, é dia de festança
Aqui no pé da Serra

Alegria se vê no sorriso
De cada um que aparece por aqui
Gente simples e feliz
Que não troca essa vida
Por nada nesse mundo

O suor do trabalho
Na colheita e criação dos animais
Se vê na mesa que se estende com fartura
Cada um traz um pouco de sua casa
E os vizinhos
E amigos
Logo preenchem o nosso pedaço de chão
É gente que não acaba mais

Já se escuta o estalo
A primeira das cervejas
E um grito do compadre
Agora, diz ele, é que a festança começou

Nas rodas de conversa
Entre um gole e outro
Na cachaça
Se ouve um causo
Ou uma mentira
Tanto faz
Mas o importante é a prosa
De quem não se vê
Há muito tempo

Um dia só
É muito pouco
Mas é o que temos
Então
Chega de enrolar
Pega um copo e uma gelada
Vamos aproveitar
Que amanhã já é segunda
E logo cedo
Todos nós vamos trabalhar.

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Por Alex Ribeiro

Eu sou homem e o que me difere?
Dos bichos, dos monstros famintos?
Sou homem porque submeto
Outros bichos submeto
A natureza a meu bel prazer.

Mas por homens sou também
Submetido, humilhado
Então, em que diferimos
O bicho lá confinado no chiqueiro
E eu aqui, na rua 20, lote 16?

Ah, que desastre essa humanidade
Tão desumana, tão selvagem
Em sua covarde exploração
Quem é o presidente? Senão um homem
Como eu, como o Tadeu ali na esquina
Como qualquer outro
Mortal.

E eu aqui consumindo arte
Cultura, revista, sexo e protesto
Para quê? A quem pertence
Meu destino?
A Deus onipresente, onipotente?

Então por que é que Deus é
Tão calado. Diz-me
Quem cala consente, então,
Deus consente em tudo que aí está.

Ou então Deus está demasiado ocupado
Para lidar com insignificâncias
Humanas
Gosto mais desse Deus. Ausente.
Assim somos todos responsáveis
Pela mazela que criamos.

Assim sendo o silêncio de Deus
Nós homens não somos nada
Além de vis criaturas
Bichos selvagens e vaidosos
E nos matamos uns aos outros
Em nome da mediocridade.

Viva são Jair
E toda sua ignorância!
Viva a sociedade suja, linda e hostil
Viva, enquanto for possível
Antes que os bichos verdadeiros
Tomem sua carne apodrecida e perfumada.

Ah, pobre sou eu no cárcere
Ser homem e não ser bicho
Quando tudo em mim é bicho
Até mesmo minha mais nobre vontade
De não ser bicho.

Somos bicho homem
E matamos disfarçadamente
Assassinos
De nossa carne.

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Por Jackson Melo

A noite chega
E os corpos
Sentem saudade

Saudade
Um do outro
Como nunca
Se havia tido antes

O desejo do reencontro
É tamanho
Que a ansiedade chega a parecer
A do primeiro encontro

Os corpos se encontram
Abraços e carícias
Falam mais que palavras
Para que cada segundo
Não seja perdido

Afinal
Os dois corpos
Não estão juntos
Desde o amanhecer.