Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Alex Ribeiro

Um dia fui criança
Que corria, que brincava
Que sorria a inocência
Nas coisas simples do meu dia

Um dia fui criança e não sabia
Do mundo que me esperava
Enquanto crescia, crescia…

Tantas obrigações vieram
Com os números de minha idade
Tantos sonhos não cabiam
Nas páginas da minha agenda

Eu era uma criança
E não sabia
O mundo me cobrava e
Eu sofria, sofria

E então viver é ser pontual
Cumprir à risca o ritual
Acordar, correr, trabalhar
Correr, almoçar, correr
Trabalhar, correr, descansar

Então corria para viver
Vivia para correr
Corria para sempre trabalhar
E vivia trabalhando

Ai de mim um pequeno atraso
Ai de mim um erro repentino
Ai de mim reclamar das horas de
Trabalho, trabalho, trabalho…

Eu sou criança e não sabia
Que o trabalho acaba
Com nossa vida singela
E suga nosso tempo,
Nossa saúde
Até deixar-nos tão sós
Tão anônimos, tão sós…

Um dia irei morrer
Um dia perderei tudo
E me substituirão no trabalho
E serei esquecido
E tudo será em vão

E serei de novo criança
Que brinca no chão
Sem obrigação, sem exigência
Sem o que me tira a existência.

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Por Jackson Melo

E mais uma vez
Você se foi

É sempre assim
O sol se levanta
E leva embora
Meu amor

Ela se vai
Não me deixa
A despedida
Simplesmente
Se vai

Me pergunto
Se é de seu deleite
Sentir
A minha angústia

Nunca sei
Se vai voltar
Pergunta
Meu coração
E eu
Não tenho resposta

A única certeza
É de que a noite
Vai voltar
E que mais uma vez
Estarei a te esperar.

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Por Alex Ribeiro

Tão pequena aquela menina
Que saiu do interior, do dia-a-dia
De ser sempre prendada
De lapidar a dona de casa

Foi pra cidade grande
Onde o progresso se expande
Sem saber como lá é
Mas com o peito cheio de fé

Nunca vira o céu cinzento
Tal como daquele cruzamento
Um cruzamento tão famoso
Que ela ouvira com Caetano Veloso

Na metrópole quis florescer
Um universo diferente conhecer
Ter no seu ser delicado
Um conhecimento jamais esperado

Mas encontrou muito mais
Grandes desigualdades sociais
Muitos corpos para todo lado
Sem coração, ou com ele gelado

Em certas noites se encolhia num canto
Onde corria um riacho de pranto
A saudade batia num bumbo febril
Que repulsa desse mundo tão vil

Às vezes parava sob o pergolado
Olhando aquele trânsito parado
Imaginava um trem chegar na estação
Levando-a pra Minas num só coração

Toda noite sonhava a Neide Maria
Com amanhecer melhor o outro dia
E assim levava com esperança
Ou saudade do tempo de criança.