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Por Alex Ribeiro

Os Horácios e os Curiácios é uma peça de Brecht, que conta, de forma alegórica, o que aconteceu em Roma, na chamada guerra dos trigêmeos. Na peça, Brecht divide cada um dos três irmãos, lutando contra si, como se fossem agrupamentos de guerreiros: arqueiros, lanceiros e espadachins.

Como acontecido na guerra dos trigêmeos, dois dos Horácios morrem em batalha, e o terceiro se vê sozinho contra os demais. Porém, estando os sobreviventes Curiácios muito feridos e já cansados, o triunfo é dos Horácios.

Na história de Brecht, os Curiácios pretendiam tomar as terras e minas dos Horácios e convocaram seus exércitos para a invasão da terra vizinha. Eles tinham em mãos as melhores armas e seus guerreiros foram felizes nas primeiras batalhas, mas a um alto custo, visto que os Curiácios saem feridos dessas batalhas. Dois Horácios morrem, no entanto, o terceiro Horácio, poupado de ferimentos, vence um a um os Curiácios.

Tal peça nos faz lembrar o que aconteceu no Brasil, nas eleições de 2014. O país rachou-se em duas grandes massas que se digladiaram pelas redes sociais, mesas de família e demais encontros sociais. Ao fim, já no limite da batalha, um dos lados conseguiu uma reviravolta surpreendente. Isso não significou paz para o país, e muito menos que as coisas ficariam tranquilas para os “Horácios brasileiros”.

Agora, a menos de um ano da próxima eleição presidencial, nos perguntamos se novamente haverá um acirramento entre as facções políticas instauradas. Tombou-se o vitorioso nas urnas, mas tombou-se também o representante mor da oposição. Aonde chegaremos a partir de 2019? Brecht infelizmente não aponta o que se sucede após a batalha, mas nós pudemos sentir na pele o esfacelamento moral da nação. E agora? Conseguiremos uma reviravolta “horaciana” que nos traga de volta, nos próximos anos, o equilíbrio do bom senso? Será nossa missão.

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A Difícil Tarefa de ser Mulher

Por Antônio Roberto Gerin

BONEQUINHA DE LUXO (115’), direção de Blake Edwards, EUA (1961), é uma adaptação customizada do livro homônimo de Truman Capote, badalado escritor norte-americano e também autor do famoso romance jornalístico, que também viraria filme, A Sangue Frio. Não há nenhum tipo de intenção pejorativa na utilização do verbo customizar, senão para informar ao espectador que o filme é uma versão mais amena, mais palatável da personagem original de Truman, Holly Golightly. Audrey Hepburn interpreta Holly e Holly tinha que caber como uma luva em Audrey, a diva mimada. E assim foi feito, resultando numa das combinações mais perfeitas entre atriz e personagem, personagem e atriz. Quase uma simbiose.

Na interpretação segura e corajosa de Audrey Hepburn, percebemos que Holly é Audrey, e Audrey se permite ser Holly. Não a Holly bissexual, que fuma maconha e tal, saída do fogo criativo de Truman Capote. É muito para o marketing hollywoodiano, que tem na imagem moral uma das fontes seguras de bilheteria. Portanto, antes foi preciso construir uma Holly dentro dos padrões exigidos para a imagem de Audrey – leia-se, Hollywood. E depois, perguntar a Audrey Hepburn se ela concordaria em fazer o papel de uma prostituta. Audrey aceitou, e Holly, então, é uma prostituta, mesmo que alguns espectadores, distraídos, vão passar pelo filme sem ter a certeza da profissão milenar de Holly. Mas, para a proposta do filme, este pequeno fato absolutamente não interessa.

O que interessa são os sonhos de Holly, e neste ponto a construção da narrativa acerta a mão. Há uma menina insegura e perplexa, sofrida e de origem pobre que aos 14 anos sai do sul dos Estados Unidos, Texas, e vai para Nova Iorque em busca de realizar seus sonhos, o mais óbvio deles, se fazer na vida, e o caminho mais fácil, se casar com um homem rico. Nenhuma novidade até aqui. No entanto, Holly, ao trazer sua história para Nova Iorque, descobre-se presa a um passado inconcluso, cujo único contato com a realidade concreta é seu eterno afeto pelo irmão Fred. O irmão é sua referência de vida, e, curiosamente, é o que a amarra ao passado. Este é o conflito da menina Holly.

Casar-se com um homem rico não vai substituir seu afeto pelo irmão Fred, que ela não vê há anos, mas vai, quem sabe, tornar real o mundo de ilusões que ela criou para si, mundo este baseado no luxo, o luxo que começa às portas da famosa joalheira Tiffany’s, onde ela vai tomar café todas as manhãs, e continua nos vestidos de grife que ela usa e que ditariam moda à época do lançamento do filme. A própria tradicionalíssima Tiffany’s se dispôs a abrir sua loja, num domingo, para que as filmagens, dentro da loja, pudessem ser feitas. É pouco, ou querem mais luxo?

Mas Holly não é só luxo. Com seu jeito descompromissado, oscilando entre a tristeza e a esperança, inserida num mundo de glamour e fantasia, a deslumbrante Audrey faz da personagem Holly uma sombra que vaga graciosamente sobre uma possibilidade de vida. E esta possibilidade aparece quando Paul Varjak (George Peppard) se muda para o apartamento logo acima do dela e se torna um vizinho adorável, respeitoso, alto, belo, enfim, detém todas as características que Holly sempre atribuiu ao seu irmão Fred. Não à toa, Paul vira Fred. Confundem-se na cabecinha acelerada de Holly, uma cabecinha de boneca (não prostituta) adorável. Boneca, sim, e de luxo!

Aqui chegamos à nossa conclusão. Em se tratando de um clássico, fica-nos sempre a impressão de que falamos pouco. Então, é melhor deixar tudo de lado e falar de uma coisa só. E bem falada.

Aliás, podíamos falar de Marylin Monroe, que foi a primeira indicada para fazer o papel de Holly, mas, seguindo conselho do seu guru, Lee Strasberg, renomado diretor de teatro em Nova Iorque, Marilyn recusou o papel, uma vez que fazer um papel de prostituta poderia afetar sua imagem. Podíamos falar da trilha sonora, da belíssima e premiada canção Moon River, da fotografia, do roteiro seguro… Podíamos até falar do título brasileiro, Bonequinha de Luxo, mais apropriado que o título americano, Breakfast at Tiffany’s… Enfim, não vamos falar de nada disso!

Em meio às indefinições do caráter emocional e afetivo da personagem, que se nega a se entregar ao verdadeiro amor que viera bater a sua porta, o belo e sedutor Paul, vemos uma menina em constante embate com o ser mulher. A mulher em Holly quer aparecer, mas a menina Holly não deixa. É essa menina que não consegue se fazer mulher, é essa menina se debatendo com sua história, é Holly juntando forças para continuar perseguindo seu sonho de se casar com um homem rico, é Holly caminhando para ser finalmente mulher: esta é a trajetória existencial da personagem no filme Bonequinha de Luxo.

E o filme chega ao seu desfecho natural e vigoroso quando a realidade, com a morte do irmão Fred, se abre para Holly. Agora tudo parece se tornar concreto, principalmente suas dores. Primeiro, quando ela nega afeto a seu gato. Aliás, ela nega até nome ao gato. Aliás, ela nega seu próprio nome, ela não é Holly, ela é Mae. Segundo, quando, ao “jogar” o gato fora, ela percebe que está jogando fora também o seu amor de vida, Paul. É esse caminhar doloroso da menina em direção à mulher, trilhando o caminho do afeto, que faz do filme Bonequinha de Luxo um clássico irreparável. Afinal, a vida é movimento. Também no cinema.

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Por Jackson Melo

A cor da minha pele
É morena
Marrom
Escura…
Ela é preta!!

Seu brilho incomoda
Me faz vítima
De ataques, de preconceitos
Mas eu não a trocaria
Por nenhuma outra

Meus grandes lábios
São do tamanho do meu sorriso, grande
E trazem todo encanto
Da minha alma

Minha dança “De preto”
Não é feita pra te agradar
Eu danço pra agradar
Aos meus deuses
Pra demonstrar a minha felicidade

Sou feita de amor
Sou herdeira da minha crença
Sou filha da minha cor
Preta!