Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Jackson Melo

É tarde aqui na roça
A noite já se assentou
O trabalho do campo
Já cessou

Os bichos
Em seus cantos
Já se encontram
A descansar

O cansaço
Me acompanha
Mas o beijo na morena
Nunca deixo de desejar

Sei que agora
Em tempos modernos
O amor e o carinho
Já não são mais de costume

Mas morena
Não me esqueço
Que tua mão eu fui pedir
E que pra sempre vou te levar
Ao meu lado, eterno amor
Minha eterna enamorada.

Publicado em Categorias Contos, Cultura, Literatura

Por Geraldo Lima

Esperou por ela ali no quarto.

Esperou que ela entrasse e fosse direto para o banheiro, como era de costume. Ah, sempre com a bexiga cheia, prestes a estourar. Ouviu o baque da porta sendo fechada e em seguida o jato do xixi batendo na água do vaso sanitário. O barulho da descarga, da porta sendo aberta e, por fim, o som de passos vindo em direção ao quarto.

Esperou sentado na borda da cama. Mas a espera tornava-se mais longa do que ele desejava. Os passos pareciam fazer um trajeto enorme, como se de repente a casa tivesse triplicado de tamanho. Para aumentar-lhe a ansiedade, ela fez um pequeno desvio e passou primeiro pela cozinha. Havia se esquecido de que, vez ou outra, ela chegava faminta. Cansada e faminta. Esperou sentado na borda da cama e com o envelope pardo numa das mãos. Ela iria perceber, tão logo passasse pelo vão da porta, que o rosto dele não trazia aquela serenidade de sempre, o sorriso e a alegria por vê-la chegar em casa depois do trabalho. O quadro era outro, turvo e sombrio.

Esperou sentado na borda da cama até os passos começarem a ressoar como se já estivessem dentro do quarto. O coração deu um salto grande e sufocante, obrigando-o a se pôr de pé. No envelope pardo, as mãos deixavam marcas de suor e nervosismo.

Esperou sentado na borda da cama até aquele instante, em que ela adentrou o quarto com o rosto banhado em luz e graça. Ela vinha de uma outra alegria que não podia se conter, mas, ao deparar-se com a imagem corrompida pela dor e exposta com tanta nitidez, acusou o baque, – o rosto desbotou-se e ela entendeu logo a razão daquele envelope brandido com fúria diante dos seus olhos.

Geraldo Lima é escritor, dramaturgo e roteirista.

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Alex Ribeiro

Essa noite você foi embora
Sem ouvir o que eu dizia
Você se cansou tão rápido
O tempo é que passa devagar

Nem sei dizer sobre o amor
Se ele também já partiu
Em mil pedaços de solidão
Espalhados por toda casa

Nos minutos eternos que vieram
Uma trilha sonora amarga
Pulsava dentro de mim
Tudo parece tão frágil, você disse
A fragilidade sou eu

Tempestivamente me vem
Uma vontade de ir embora.
Mas eu não fui embora.
Fiquei
Fiquei a ver navios que sempre partem.

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