Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Alex Ribeiro

Ah, poema
Salva-me do naufrágio em mim mesmo
Salva-me desse mar de angústia
Dessa noite tão fria.

Tu, de quem tenho esperado um abraço
Que me ouve sem especular
Que ouve no mais íntimo
Para além do simples escutar

Traz-me tuas palavras sinceras
Poucas
Palavras que me deixam gritar
No silêncio da minha boca

Ah, poema
Tu, que és minha voz e meu canto
Minha companhia em completa solidão
Tu que és, não uma mentira,
Mas uma doce sedução

Dá-me vez, meu querido verso
Para que eu possa chorar
No mais íntimo jardim
Donde nasce a flor humana
Tão fraca, tão frágil
Perdida no olhar profundo
De um menino esquecido
Que um dia
Teve um sonho de poeta

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

A Mãe é uma peça de Bertolt Brecht, escrita em 1931. É uma adaptação do romance de mesmo nome, escrito por Máximo Górki. Está ambientada numa Rússia, nas primeiras décadas do século XX, que está prestes a ver emergir a revolução socialista que colocaria fim ao império czarista de Nicolau II. Num recorte de tempo, de 1905 a 1917, ano em que o czar foi deposto, Brecht nos apresenta Pelagea Wlassowa, mãe do operário revolucionário Pawel Wlassowa. Esta senhora, cansada da vida dura que sempre teve, se vê apreensiva com as atitudes do filho, organizando assembleias e convocando greves. Mas, no decorrer da peça, Pelagea Wlassowa vai descobrindo quais as motivações daqueles jovens operários, e então o seu senso de justiça passa a falar mais alto. Ela não pode mais ficar omissa. É preciso mobilizar toda a gente, é preciso falar e fazer política. Eis que surge, então, a Mãe. A mãe do filho e, em seguida, a mãe de toda a classe operária.

A situação dos operários era crítica. A cada mês não se sabia o que poderia acontecer com seus salários. Poderia manter-se naqueles valores ou os donos das fábricas diminuiriam ainda mais o ordenado. Cada copeque a menos que os operários traziam no bolso deixava suas situações ainda mais indignas. Assim, na primeira cena de Pelagea Wlassowa, ela está envergonhada da sopa que faz ao filho. Não há dinheiro suficiente para fazer uma sopa consistente, em que pese que ele precise de força para continuar a trabalhar.

Convencida, pelos operários, que a única saída para melhorar a situação da sua família e de todos os operários russos é a mobilização da classe, através das greves e do fortalecimento do partido bolchevique, nossa heroína começa a crescer. Pelagea vai ao campo, vai às ruas, aprende a ler e a escrever, e mobiliza tudo a sua volta em busca de fortalecer o coro que pede por justiça. Ela se torna a mais engajada das revolucionárias.

A dor bate fundo quando Pelagea recebe a notícia de que o filho, até então tentando escapar da prisão política, é fuzilado pelas tropas do czar. Pelagea sofre profundamente o impacto desse golpe. Apesar de ainda não achar que foi erro ter mergulhado no olho do furacão dessa revolução, ela se recolhe no luto, abatida com a maior perda que uma mãe pode ter. Parece o fim dos dias de agitação política da senhora Wlassowa.

Mesmo sem forças para voltar ao movimento, estando ela também já com a idade avançada em 1917, Pelagea Wlassowa, a Mãe, marcha ao lado dos operários. Sangrando, após ser atingida pela polícia, por não querer abandonar a marcha e seus companheiros, ela segue firme, recitando versos de esperança que finalizam a peça, convidando o público a se mobilizar.

“Pois os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã
E o nunca tornar-se-á: hoje mesmo.”

Brecht, no final da década de 20, tornara-se marxista, e é nítida a presença dessa ideologia no texto A Mãe, escrito no início da década de 30. Ele mostra de forma bastante clara como uma personagem, mesmo não sendo mais jovem, pode se conscientizar e se mobilizar em busca dos direitos dos seus iguais. Talvez fosse essa a grande lição de Brecht para a sua Alemanha, que estava prestes a se perder no Nazismo. Talvez seja essa uma lição de Brecht para o Brasil, que a cada dia nos dá o sinal de que as coisas vão de mal a pior. Quem será a nossa Pelagea, meu querido Brecht? Que mãe vai guiar nossos passos? Que seja, talvez, a mãe Consciência Crítica. Pois, nestes duros momentos, apelar para o bom senso é o que nos resta.

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Jackson Melo

Durante muito tempo
Venho carregando este meu fardo
A que chamo
De alguma maneira
De minha vida

Mas há pouco
Este meu fardo
Tornou-se mais leve
Desde o momento
Em que ela apareceu…
E em instantes
A vida fez sentido

Grande amiga
Ofereceu o teu ombro
Nas horas difíceis
Apoiando-me a todo momento

Afogado em tristeza
Eu, egoísta
Absorvi cada gota
De sua bondade

A namorada
Cego de ambição
Eu queria sempre mais
E ela me entregou o bem mais precioso
Seu coração

No altar
Quando a recebi
Em nosso casamento
Ela abandonou suas vontades
E jurou-me seguir para onde eu fosse
E eu não a levei a lugar algum

Tenho um crime
A confessar…

Carrego a culpa comigo
Há muito tempo
E sem perceber
O descaso tem sido
Meu cúmplice

E só agora
Diante desta lápide
Onde ela encontrou seu descanso
Longe daquele
Que destruiu sua vida
Eu enterro meu amor

Junto a ela
Que sempre esteve do meu lado
A mulher mais perfeita que veio a existir

E eu nunca
Nunca
Disse a ela
Que a amava.