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Encontra-se em cartaz no Teatro Garagem, SESC, na 913 Sul, o belo espetáculo ENTRE CRAVOS & LÍRIOS, direção e dramaturgia de Lidiane Araújo, no palco, Ana Vaz e Denis Camargo. Podemos dar a este espetáculo o subtítulo de “uma lição de humanidade”, tamanha a sua capacidade de nos envolver e de nos remeter àquilo que é a essência do humano, o sentir plenamente o outro. Óbvio que, diante das correrias dos tempos modernos, esta atitude está um tanto comprometida. Usamos a linguagem das redes sociais para nos comunicar, longe do olhar e do sorriso do outro, e desprezamos, assim, tantas outras formas mais sutis e profundas que aproximam os seres humanos e os fazem dar sentido à própria vida e, pasmem, à vida do outro. É isto que o espetáculo quer nos dizer. Que o ser humano nasce da terra, de suas profundezas, e o palhaço se expõe seriamente diante dos risos como forma de nos avisar de onde viemos e o que somos. O espetáculo, poeticamente, nos escancara. Ana Vaz e Denis Camargo dão um show de interpretação, comoventes. Indicamos o espetáculo, hoje, dia 10 de março, é a última apresentação, vez que grupo está indo se apresentar em Belo Horizonte. Entre Cravos & Lírios é destes espetáculos que ficarão em nossa memória por muito tempo. Por isso, simplesmente imperdível.

 Cia de Teatro Assisto Porque Gosto

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Vidas que secam ao sol

Por Leivison Silva

Vidas Secas (100’), Brasil (1963), é um clássico do cinema nacional dirigido por Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), um dos mais importantes cineastas brasileiros do século XX. Baseado no aclamado romance homônimo de Graciliano Ramos (1892-1953), Vidas Secas foi indicado à Palma de Ouro, no Festival de Cannes, em 1964.

O filme conta a história de uma família de retirantes composta pelo pai, Fabiano (Átila Iório), a mãe, Sinhá Vitória (Maria Ribeiro), os dois filhos do casal e a cachorra Baleia, que tanto no livro quanto no filme tem mais humanidade que os dois meninos, que nem nome têm. Após uma exaustiva caminhada pelo sertão, a família encontra uma fazenda abandonada, a qual passa a ser sua moradia temporária. Fabiano consegue o emprego de vaqueiro e a família passa a viver melhor. Algum tempo depois, Fabiano é preso injustamente pelo Soldado Amarelo (Orlando Macedo), que representa aqui a figura do Estado opressor. Com o fim da estação chuvosa, a família é obrigada a encarar a estrada novamente.

Vidas Secas retrata, sem eufemismos, a miséria do sertão nordestino, a humildade, a vulnerabilidade sócio-econômica e a religiosidade de seu povo, que luta para tentar sobreviver às intempéries da seca. Um povo esquecido pelo Estado e que, apesar de viver sob o jugo do coronelismo que assola a região, mantém a esperança de ter uma vida melhor. Sinhá Vitória, por exemplo, sonha em ter uma cama com colchão de couro.

Nelson optou pelo uso de planos longos, uma fotografia crua, em preto e branco, que enaltece a violência do sol em contraste com a vegetação da caatinga. E optou também por poucos diálogos, falados com impostação teatral. O Nordeste, além de servir como cenário da ação, é retratado como um microcosmo do Brasil, com todas as suas desigualdades, contradições e incoerências.

Vidas Secas é uma prova da vitalidade do cinema brasileiro, que superou os obstáculos surgidos ao longo dos anos, dentre eles a concorrência desleal com os filmes de Hollywood, e contribuiu para a construção de uma identidade nacional, genuinamente brasileira. Um filme que coloca o dedo em feridas ainda não cicatrizadas, mesmo após terem se passado quase sessenta anos desde seu lançamento. É o mesmo povo, abandonado à própria sorte, ainda à mercê da seca e dos desmandos políticos

Simplesmente indispensável para qualquer amante de cinema, caros leitores.

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin.

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Por Jackson Melo

E mais uma vez
Você se foi

É sempre assim
O sol se levanta
E leva embora
Meu amor

Ela se vai
Não me deixa
A despedida
Simplesmente
Se vai

Me pergunto
Se é de seu deleite
Sentir
A minha angústia

Nunca sei
Se vai voltar
Pergunta
Meu coração
E eu
Não tenho resposta

A única certeza
É de que a noite
Vai voltar
E que mais uma vez
Estarei a te esperar.