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Por Alex Ribeiro

A Morte do Caixeiro Viajante é uma peça escrita por Arthur Miller, que estreou nos EUA em 1949, rendendo-lhe o prêmio Pulitzer daquele ano. É sua obra prima e, consequentemente, sua peça de teatro mais montada até hoje. Foi também adaptada para o cinema.

A peça conta a história de Willy Loman, um caixeiro viajante que passou a vida viajando para vender os produtos da companhia em que trabalhava, e que, de repente, começou a se ver velho, cansado, e com os filhos perdidos na vida, sem muita perspectiva de futuro.

Willy acreditava que se as pessoas gostassem dele e se ele conseguisse usar do carisma para convencê-las, poderia ser uma pessoa de sucesso. Foi o que ele ensinou aos filhos, Biff e Happy. O primeiro era superestimado pelo pai, que achava o garoto um fenômeno de carisma e por isso seria a tradução do próprio sucesso.

Porém, passados os anos, Biff está perdido, não consegue se firmar em nenhum emprego, e vive tendo momentos de conflito com o pai. Willy não entende qual a razão de o filho não ter se tornado um sucesso. Toda a fantasia que alimentara em sua vida vai por água abaixo.

Willy talvez tenha falhado em acreditar que o carisma, a bela aparência e a estima das pessoas eram suficientes para se construir alguma coisa na vida. Por isso a sensação, em alguns momentos, de que ele é muito orgulhoso e arrogante, e que um pouco de humildade teria sido útil na construção dos seus sonhos.

Hoje, nessa atual crise no Brasil, muitos de nós nos sentimos perdidos, com os sonhos ameaçados. Os Loman nos mostram que é preciso mais do que a aparência para enfrentar as adversidade e construir aquilo que queremos pra nós, seja em nível de país, seja no plano individual. Um sorriso bonito, uma maquiagem bem feita, gestos de simpatia, uma crença, nada disso é suficiente pra concretizarmos as verdadeiras mudanças. É preciso algo mais. É preciso ir à luta!

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Amar pode ser uma escolha

Por Antônio Roberto Gerin

MARTY (85’), direção de Delbert Mann, EUA (1955), além de ser um filme bastante premiado — entre as quatro estatuetas que ganhou, levou o Oscar de melhor filme —, traz algumas curiosidades que explicam o impacto causado pelo filme à época da sua exibição mundo afora. Dentre os feitos, podemos salientar alguns. É o filme de menor duração a ter ganho um Oscar. Foi o primeiro filme a ser exibido comercialmente na então União Soviética, em Moscou, em 1959, desde o término da Segunda Guerra Mundial. E ainda foi o primeiro filme norte-americano a ganhar a Palma de Ouro, em Cannes. Portanto, um filme com credenciais para ser incluído em algumas das listas de melhores filmes de todos os tempos. Mas, afinal, quem já ouviu falar de Marty? Quem conhece essa comédia romântica, protagonizada por um casal de simplórios, tidos como feios para os padrões hollywoodianos? Cuja timidez (de ambos) destoa das ousadias comportamentais dos nossos tempos? Nesta toada, seria Marty um filme datado, preso às amarras morais dos anos 1950? Pré-anos 1960, quando então alguns tabus seriam pulverizados na base da paz e amor? Não, Marty absolutamente não é um filme preso a uma época. Ele pode nos parecer óbvio e superficial. Flertar com a idealização de heróis e princesas. No entanto, o que o filme nos oferece vai muito além. Nele, a realidade é crua, sem disfarces, às vezes silenciosamente terrível. Marty compõe uma daquelas tocantes fábulas sobre o amor, raras de se ver em Hollywood. Mas é um filme definitivo, por uma simples razão. Marty não banaliza o real.

O roteiro é primoroso. Ambienta toda a narrativa dentro de uma situação social definida a partir dos arquétipos da tradicional família italiana, onde o casamento é tratado como uma situação inevitável. A atitude de não se casar será cobrada pela sociedade. Como se fosse um desvio de conduta. É dentro desta gaiola social que transita o desengonçado, simpático e solteirão Marty. Devemos incluir nos louvores ao roteiro simples e eficiente os diálogos velozes e espirituosos que se encaixam à perfeição dentro das situações dramáticas, tirando de cada uma destas situações sua força teatral máxima.

O solteirão Marty Pilleti, interpretado pelo premiado Ernest Borgnine, (receberia o Oscar de melhor ator das mãos de Grace Kelly), é um açougueiro trintão, tímido e antissocial, com baixa autoestima, de quem até os fregueses do açougue cobram-lhe o casamento. E, óbvio, isto o incomoda sobremaneira. Conformava-se já com a solteirice, quando, quase obrigado pela mãe, vai a um baile, onde conhece seu provável grande amor, a tímida professora Clara (Betsy Blair). Se falta beleza aos dois, sobra simpatia, sinceridade e cumplicidade. O encanto com que vão se descobrindo contrapõe-se às expectativas negativas da mãe e dos amigos, que não querem o namoro. Os amigos, porque perdem um companheiro de noitadas. A mãe, pelo matriarcal medo de perder o filho. Como estratégia, ela acusa a moça de ser feia, pobre e não italiana. Esse confronto aberto, que acontece já na parte final do filme, leva a um impasse. Temos a nítida impressão de que o fraco e inseguro Marty irá desistir do seu amor. Decepcionante. A pressão é tanta que chega o momento em que Marty terá que fazer a escolha. Clara está na casa dela esperando o prometido telefonema. Marty devia ter telefonado às 14h30. Já são 20h! E aí, Marty? Não vai telefonar não? Vai deixar que os outros façam a escolha por você? Este é o impasse. Para que o filme chegue a seu final, uma escolha terá que ser feita.

Marty passa a simbolizar o ser humano que toma para si as rédeas do seu destino, quebrando todos os laços que o prendem a uma vida de marionete. Ele precisa urgente recuperar o sentido da sua vida. Aqui reside a força do filme, que o faz permanecer na prateleira dos grandes clássicos. Apesar do bem definido arcabouço de circunstâncias sociais e culturais armado pela estrutura narrativa, no filme só uma coisa importa. Ele, Marty. Ele é o protagonista de si mesmo. O filme só existe porque Marty existe. Sem Marty, e sua essência humana, o eficiente eixo narrativo ficaria sem rumo. O filme é um prêmio para o espectador que em algum momento de sua vida sentiu a desesperada necessidade de tomar para si as rédeas da sua vida. E a que custo! O que nos leva a dizer que Marty absolutamente não é um filme datado, daqueles tempos dos anos 1950, em que as cartas eram antecipadamente marcadas. Marty é um filme para a vida. Um filme que vai além de nós mesmos.

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Por Alex Ribeiro

Falar de amor passa primeiro pelo reflexo
No espelho eu vejo o amor que carrego
Por detrás de um olhar preocupado
Ou de um sorriso magoado.

Pensar no amor me leva à lembrança
De quando ainda pequeno e indefeso
Era cercado pelo amor dos meus.

Traduzir o amor é ver o sorriso do filho
Querer o seu bem acima de qualquer outro bem
Que seja possível.

Construir o amor me absorve em beijos apaixonados
Que me convidam para uma dança
Cujos passos sincronizados tenho que aprender
Sem que a música deixe de tocar.

E esse amor, por mais que seja desejado
É um pouco descuidado, desprevenido
Como alguém perdido na tempestade.

O amor é bonito, e no fundo a gente sabe disso.

Mas amar é o jeito de cada um
E muitas vezes nesse ato de amor genuíno
Espeta uma dor aguda inexplicável
Que provoca a lágrima que nunca quis desabar
E o amor um dia acaba
Como o par que se separa no fim de um xote bem dançado.

O amor é finito
Por isso é tão bonito.