Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro   

A Mandrágora é uma comédia de Nicolau Maquiavel, escrita por volta de 1520, período este em que o autor, muito conhecido por sua obra política, estava radicado em San Casciano, em Florença, na Itália. A criação de A Mandrágora, considerada sua melhor comédia, sucedeu à sua grande obra, O Príncipe, num momento em que Maquiavel se dedicava ao que chamou de distrações literárias. A peça teve estreia em 1520, na Casa de Bernardino di Giordano, passando nos anos seguintes por Veneza e Roma, todas com sucesso grandioso. No Brasil, a peça teve sua primeira montagem em 1963, e recentemente ganhou montagem do Grupo Tapa (foto), de São Paulo.

Maquiavel não dava tanta importância às suas criações dramatúrgicas, visto que seu grande objetivo era a vida política e, com isso, consequentemente, tinha maior apreço pelas suas obras que tratavam deste assunto. Apesar disso, A Mandrágora tem um valor histórico e estético importante, visto que quebra com algumas estruturas dramáticas da comédia daquele período. Maquiavel não faz as concessões a que estavam acostumados os comediantes de até então, que após dar boas gargalhadas ao público, voltavam para finais harmoniosos, normalmente finalizando a peça com um casamento. O autor cria, sem medos, uma estrutura dramática que revela o comportamento obsceno da Igreja Católica e desnuda a corrosão da moral do seu tempo, culminando num final totalmente novo, onde o casamento é por completo arruinado.

Calímaco é um jovem que acaba de regressar de Paris e chega a Florença para conhecer a beleza de uma mulher, cuja fama atravessara as fronteiras dos dois países. É Lucrécia a bela mulher, esposa de Messer Nícia, um velho advogado, abobalhado, porém, muito rico. Nosso jovem protagonista se vê apaixonado pela belíssima dama, e se angustia com o desejo de tomá-la em seus braços. Porém, duas coisas o impedem. Lucrécia ser casada, e ter uma conduta retíssima, difícil de se convencer a qualquer ato que fuja à sua conduta moral rígida, orientada pelo Frei Timóteo.

É em Ligúrio, sujeito conhecido como parasita em Florença, que Calímaco acha apoio para conquistar a mulher que deseja. O primeiro, homem de amizade e confiança de Messer Nícia, sabe que este está louco por ter filhos com Lucrécia, mas tem falhado angustiosamente. É a partir daí que ele vai convencer Nícia a deixar outro homem deitar-se com Lucrécia, que sob o efeito da mandrágora preparada por Calímaco, passará a dar filhos ao Messer. Tudo está combinado, só resta convencer Lucrécia.  E é nesse momento que entra o papel corrupto da igreja na pessoa do Frei Timóteo. Seduzido pelas promessas de Calímaco, ele convence Lucrécia e sua mãe Sóstrata a sucumbir ao plano de Ligúrio. E eis que nossos protagonistas se encontram, não como um belo casal direito, mas, sim, como um par de amantes ardentes.

O riso é também garantido em Maquiavel. Ao ler e assistir a A Mandrágora, o leitor poderá se deleitar, assim como o faz nas comédias tanto de Shakespeare como de Molière. Mas o que mais nos impacta é como Maquiavel nos conduz para a corrosão da moral sem que ao menos tomemos consciência disso. De repente, estamos ali diante de valores deteriorados e mantidos por pura aparência. E esse é um dos papéis da arte, desnudar, esteticamente, aquilo que mantemos nas aparências. Maquiavel, talvez por estar em contato íntimo com o poder, desnudou, com maestria, aquela Florença. E nos convida a desnudar também o nosso tempo, os nossos príncipes em seus palácios, em seus tribunais, em seus púlpitos e, vejam só, em seus tronos em suas salas de estar.

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Alex Ribeiro

Se busco com os olhos alguém diferente
Um deserto aparece na rua e no bar em frente
Pessoas que não quero, um mar de gente
Andando por ali se fingindo carente

Aí vejo você, o seu sorriso não mente
Um precioso oásis que meu coração sente
Nesse mundo gelado seu corpo é quente,
Porém há um labirinto entre os lábios d’agente

Quando seu abraço me envolve contente
Sinto no coração um palpitar não frequente
Peço a Deus que eu seja forte e aguente
Que eu resista ao seu encanto alegremente

Assim brotam meus versos da alma como nascente
Lembrando de ti no fim da lua crescente
Um sentimento dolorido, um pensamento latente
Um na vida do outro se fazendo ausente
Mas a noite não para e vamos em frente
Quem sabe no futuro a gente se entende.