Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Alex Ribeiro

Falar de amor passa primeiro pelo reflexo
No espelho eu vejo o amor que carrego
Por detrás de um olhar preocupado
Ou de um sorriso magoado.

Pensar no amor me leva à lembrança
De quando ainda pequeno e indefeso
Era cercado pelo amor dos meus.

Traduzir o amor é ver o sorriso do filho
Querer o seu bem acima de qualquer outro bem
Que seja possível.

Construir o amor me absorve em beijos apaixonados
Que me convidam para uma dança
Cujos passos sincronizados tenho que aprender
Sem que a música deixe de tocar.

E esse amor, por mais que seja desejado
É um pouco descuidado, desprevenido
Como alguém perdido na tempestade.

O amor é bonito, e no fundo a gente sabe disso.

Mas amar é o jeito de cada um
E muitas vezes nesse ato de amor genuíno
Espeta uma dor aguda inexplicável
Que provoca a lágrima que nunca quis desabar
E o amor um dia acaba
Como o par que se separa no fim de um xote bem dançado.

O amor é finito
Por isso é tão bonito.

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Por Alex Ribeiro

O Beijo no Asfalto é uma peça de Nelson Rodrigues, que teve estreia em 1961, no Rio de Janeiro. A peça é rica em dramaturgia, tensão e revelações inesperadas. Já foi montada inúmeras vezes e conta com um belo filme, onde temos a atuação marcante de Ney Latorraca, como Arandir, e Cristiane Torloni, como Selminha, sua esposa. Atualmente, Murilo Benício está na direção do remake que entrou em processo de montagem no ano passado, e terá no elenco Lázaro Ramos como Arandir e Débora Falabella como Selminha.

A peça mostra a tragédia de um homem comum, Arandir, que vê sua vida se transformar de uma hora para outra, graças a uma imprensa famigerada, quando um repórter presencia um ato inusitado, o beijo que Arandir deu no homem que estava ali, moribundo, após ser atropelado por um lotação, em plena Praça da Bandeira.

Nelson Rodrigues, que também trabalhara na imprensa, constrói um jornalista malandro, o Amado Ribeiro, que cria estórias para fazer o seu jornal vender. Esse é o grande azar de Arandir, ter como testemunha do seu ato inesperado um jornalista inescrupuloso. Apoiado por um delegado truculento e manipulável, o jornalista transforma o ato de Arandir em crime.

Vale lembrar o quanto esta tragédia tem um significado especial para nós brasileiros, nos dias de hoje. Ela traz questões que são discutidas com bastante freqüência, entre elas, o papel que a imprensa e as mídias ocupam no cenário político brasileiro, seu vezo persecutório, suas manchetes manipulativas, a falta de escrúpulo ao se distanciar da verdade. A criminalização antecipada parece ser o principal o objetivo.

Há inúmeras outras questões que o texto acaba por revelar, dentro da sutileza de cada personagem. É como se Nelson Rodrigues nos apresentasse, em cada personagem, uma representação de uma parte dos brasileiros, numa construção quase arquetípica. E é por isso que O Beijo no Asfalto ainda continua tão atual.

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.

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Por Alex Ribeiro

Passei muito tempo à procura
De uma coisa que era desconhecida
E por ser desconhecida teve inúmeros nomes
Pronomes e adjetivos

Cada vez que eu me jogava nessa busca
Me dominava de angústia e paixão
Completamente desequilibrado
Embriagado dessa confusão

E nessa minha existência a falta
Nomeada pelas minhas fantasias
Fez-se deusa, rosas, oásis
Que eram a gota miserável que eu pedia

Como um colibri alucinado
Voei pelo jardim sem descanso ou parada
E então me deixei vencer pelo cansaço
Caí, num mergulho gelado em mim mesmo

No fim era isso que eu buscava
Uma verdade que fosse minha e não inventada
Uma voz que ecoasse de dentro pra fora
Revelando um eu mais completo
Um eu que era eu.