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Por Alex Ribeiro

Calabar é uma peça musicada, escrita por Chico Buarque e Ruy Guerra, em 1973. Narra os desdobramentos da morte de um personagem dos tempos coloniais, Domingos Fernandes Calabar, que já foi considerado o maior traidor da história brasileira.

A história se passa entre os confrontos de portugueses e holandeses, no Brasil, em solo nordestino. Calabar é entregue e condenado à morte por traição ao Brasil, após ser delatado por um amigo próximo, chamado Souto. Por delatar seu amigo, tal ação permite que Souto se torne alferes e, depois, capitão. Mas como portugueses e holandeses acabam por fazer as pazes e, em consequência, novos acordos, o delator se perde nesse emaranhado de conchavos e acaba também assassinado.

Bárbara, mulher que amava Calabar, é outro ponto de traição dentro da trama. Amava Calabar, e depois quis se consumir no amor do traidor de Calabar, o capitão Souto.  Ficou sem amor algum.

Outros personagens também carregam nas suas ações o mote da traição. Temos o Frei, os comandantes, o príncipe e os próprios reinados de Portugal e Países Baixos. Como se pode ver, não escapa ninguém.

Mas a sensação maior que predomina é que, no fundo, quem foi traído, e continua sendo, é o povo. A disputa pelo poder usa o povo para defender diferentes interesses de lado a lado, lados estes que logo adiante serão aliados. Em quem confiar? Isso se parece muito com a Guerra Política que atinge o nosso país, atualmente. O que faz vermelhos e azuis se morderem de raiva é o mesmo motivo que os faz aliados para garantir o êxito nas urnas ou salvar interesses comuns. O povo continua a mercê dessa guerra, se atacando, se digladiando nas redes sociais, mesmo sendo colocados, como sempre são, na condição de vítimas de manobras escusas. No entanto, o povo continua estampando nos muros país afora o nome daquele que, no momento, elegem como seu traidor. Afinal, todos nós achamos que é preciso que algo seja feito. É preciso não temer!

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Por Alex Ribeiro

Ah, como posso suportar isso?
Saber do fim, antes que o fim de fato aconteça
Passar esses minutos intermináveis
À espera do silêncio…

Os meus olhos querem chorar
E minhas costelas parecem espremer o peito
Pra arrancar de mim um grito lancinante
Como se a alma se rasgasse num instante

Não quero me despedir
Quero ficar
Por mais que a noite me cegue
Quero esperar que o sol me amanheça

Mas nada disso me levanta
Nada disso me resguarda da tua lança
Não me salvas, não te importas
E me deixas desabar no relento

Oh lua, minha companheira
És testemunha de tudo o que digo
Só tu me conheces inteiramente nu
Só tu sabes ouvir o silêncio

Diga-me quando é que tudo termina
Diga-me quanto tempo resta
Se o adeus é mesmo inevitável
Se a dor vai chegar ao fim.

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

Ubu-Rei é uma peça de Alfred Jarry, que teve sua estreia em 1896, em Paris. É a peça mais famosa desse autor e é considerada um marco, a origem do que viria a ser o teatro surrealista e o teatro do absurdo. Nesse primeiro semestre de 2017, o fantástico Marco Nanini voltou aos palcos no papel do protagonista, Pai Ubu.

A peça se passa durante o curto reinado de Pai Ubu, na Polônia, depois de desferir um golpe contra o rei Venceslau. Após ser instigado pela sua esposa, a Mãe Ubu, a tomar o poder, Pai Ubu decide executar o golpe e convida o Capitão Bordura para auxiliá-lo na tomada do poder.

O que mais chama a atenção é a figura do Pai Ubu, um tirano boçal, que impacta o público pelos seus absurdos. Ele mostra, a cada momento, uma faceta diferente: covarde, avarento, orgulhoso e atrapalhado, de uma maneira bastante cômica, características essas que nos lembra, em certa medida, os bufões e mesmo alguns personagens da Comédia Dell Arte.

O teatro do absurdo, inaugurado por Jarry, se estende ao longos dos anos, chegando, em doses bem reais, ao nosso Brasil de hoje, onde assistimos, pasmos, aos absurdos perpetrados por um governo bem ao estilo do Pai Ubu. Um tirano igualmente boçal que, pela ajuda de um Capitão Bordura, leia-se oposição inescrupulosa, está no poder esfacelando os direitos e conquistas sociais do nosso povo. Está na hora de o absurdo sair da nossa história e permanecer somente onde ele é bem vindo, na arte.

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