Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

Sinal de Vida é uma peça de Lauro César Muniz, e teve sua estreia nos palcos em 1979. Conta a história de uma noite fatídica do jornalista Marcelo Estradas, torturado pela sua própria consciência.

Tudo começa quando Marcelo recebe o telefonema de um amigo, anunciando a morte de sua ex-amante, Verônica. Os tempos eram de ditadura e Verônica fazia parte de uma guerrilha nascida da militância comunista. Ela havia sido capturada e assassinada pelo regime militar, instaurado no Brasil, em 1964.

A partir daí, Marcelo não consegue mais ter paz. Suas lembranças de quando ensinava os pensamentos comunistas, e o próprio convite que ele fizera a Verônica para ingressar no partido comunista começam a deixar sua consciência extremamente crítica e insuportável.

Marcelo viaja no tempo, relembra seus amores falidos que permeiam cada fase de sua vida, desde os encontros do partido comunista, quando ainda era casado com Olívia, até sua vida em “paz” com a atriz Leda, passando pela prostituta de luxo Cláudia, e pela própria estudante Verônica. Com cada mulher, um Marcelo com planos de vida diferente. Porém, um mesmo Marcelo que se mostra violento quando acuado.

Marcelo traduz um homem perdido entre sua falta de convicção nos seus ideais e sua vida amorosa falida. Tudo parece começar a ruir quando ele abandona a sua militância. A vida parece vaga e sem sentido. E a morte de Verônica traz isso à tona de uma forma visceral, mostrando o fracasso em que Marcelo se tornou.

Talvez hoje estejamos num dos momentos mais complicados de nossa história, e nos sentimos por muitas vezes perdidos diante de tantas novas informações, tantos novos golpes desferidos por aqueles que ocupam as cadeiras do poder. Será que estamos agindo de acordo com nossas convicções, com nossos valores, ou será que estamos vivendo comodamente nas nossas vidas, aceitando a opinião que nos servem prontas? Estaríamos nos acomodando na omissão? Se a resposta é sim, já podemos indicar futuros “Marcelos” tirando nosso sono.

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Por Alex Ribeiro

Essa noite eu tive um sonho terno
Ah, que sonho bonito foi esse
Que me inundou de tamanha saudade
Que fez o meu dia emocionado

Sonhei que tu, meu filho, tocava-me o rosto
Com suas pequenas mãozinhas
E olhava nos meus olhos em silêncio
Como que dizendo todas as palavras do mundo

Foi quando meus olhos já marejados
Me fizeram soltar palavras engasgadas
É o pai, filho! É o pai!
E você sorriu o riso mais bonito

Disseste papai sorrindo
Acariciaste minha barba devagar
Paraste o mundo naquele momento
Para transbordar-me de amor.

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

Um Inimigo do Povo é uma peça de Henrik Ibsen, escrita em 1882. Ela faz um recorte da vida do Doutor Stockmann, em que ele sai da posição de amado e querido pelo povo para a posição de inimigo, traidor e causador das desgraças da sua cidade.

Doutor Stockmann, após um longo estudo, descobre que o estabelecimento de banhos da cidade, um lugar visitado por pessoas de todos os lugares e famoso pela sua salubridade, não é de fato o lugar salubre que imaginam, e propõe expor seu relatório ao povo.

Tal descoberta gera um atrito entre o Doutor Stockmann e seu irmão, o prefeito. O estabelecimento de banho é considerado pela cidade como principal fonte de riqueza, já que traz pessoas de todos os lugares, em busca de suas águas limpas e saudáveis.

Vendo a posição firme do Doutor, o prefeito vai buscar apoio para resolver o embate. Após manipulação das informações, ele consegue o apoio dos pequenos proprietários, sujeitos medíocres que, por terem algumas posses, exercem alguma influência, principalmente sobre seus subordinados. E consegue também o apoio da imprensa da cidade, que se vende ao prefeito.

A combinação está perfeita: o poder político, a opinião dos proprietários e a imprensa convencem o povo que o Doutor é o inimigo e ele, junto com sua família, sofre a mais implacável perseguição.

Ao ler essas linhas, talvez você imagine que a peça poderia ter sido inspirada na atual situação política brasileira, mas não, afinal, foi escrita ainda no século XIX. Mas a sensação de que o enredo e a trama nos são familiares é real, porque estão aí os mesmos ingredientes dramáticos, à nossa frente, para não dizer na nossa cara. O teatro denuncia, ontem e hoje. Em quem acreditar?

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