Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

O Rei da Vela é uma peça de Oswald de Andrade, escrita em 1937. Conta a história de um usurário de nome Abelardo I. Ele enriquecera através dos empréstimos a juros altos que fazia para o povo, numa época de crise no Brasil.

Abelardo é um defensor nato da burguesia, do capitalismo e da manutenção das diferenças entre as classes sociais. É implacável no momento de cobrar suas dívidas, e não mede esforços para enriquecer mais ainda. Porém, precisa se casar com Heloísa, uma mulher de família falida, mas que ainda mantém o prestígio político que interessa a Abelardo.

No segundo ato, Abelardo passa a manter toda a família de Heloísa que, além dos pais, conta com os dois irmãos, uma tia e um primo. Ele flerta com a mãe e a tia, zomba dos irmãos e é extorquido pelo primo da namorada. E, para aumentar a confusão de relações que se estabelecem, deixa que sua namorada flerte com um americano, com o qual pretende fazer bons negócios.

Por fim, Abelardo se vê falido, seu funcionário aplica-lhe um golpe bem dado, deixando o Rei da Vela de mãos abanando. O funcionário, que também se chama Abelardo, fica com tudo. Com o dinheiro, o escritório, a mulher, os negócios… Por mais que pareça trágica, a peça traz, desde seu início, um humor ácido.

Ao que me parece, Oswald consegue trazer nos personagens uma bela caricatura de parte da direita brasileira, que parece manter, obstinadamente, nos dias de hoje, as mesmas características daquela época, mesmo passados oitenta anos. Nota-se um certo complexo de vira-lata, com a supervalorização do norte americano, já chamado aqui (1937) de imperialista, o indisfarçado horror aos pobres e às suas conquistas sociais, bem como a exaltação dos juros altos e o enriquecimento a partir deles. A sensação que fica é que o Brasil passa por ciclos, e mesmo indo para frente e progredindo, nos parece ser sempre o mesmo. Se fosse escrito hoje, esse texto não estaria desatualizado. Estaríamos nós condenados a ser assim sempre?

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Por Alex Ribeiro

Muito Barulho Por Nada é uma comédia de Shakespeare, que teve sua primeira apresentação por volta de 1599. Conta a história de um casamento entre a dama Hero e o Conde Cláudio, com inúmeras complicações no decorrer da peça.

Cláudio, por duas vezes vê seu amor por Hero abalado. A primeira, quando pensa que o príncipe Dom Pedro está cortejando-a para se casar com ela. E a segunda, pelo mal feito por Dom John, o bastardo que quer ver tal casamento arruinado. A pobre moça é abandonada e difamada na frente de toda a cidade. Ela fica desamparada, seu pai, Leonato, desespera-se diante da situação, mas o bom Frei apresenta uma solução e aguarda que o tempo revele a verdade.

Dada a parte trágica da peça, com o sofrimento de Cláudio e Hero, vem a parte cômica e, talvez, os momentos mais interessantes da peça, presente nos personagens Benedicto e Beatriz. São inteligentíssimos, de uma habilidade sem igual para discursar, e vivem duelando, com trocas de palavras, o que nos faz ficar assistindo a tudo, maravilhados. Tomam partido contrário ao matrimônio, mas não resistem e se casam, por “pura piedade” um do outro.

A peça traz como pano de fundo a tragédia maquinada por um personagem vil, aliás, coisa que Shakespeare sabia fazer como ninguém, e que contribuiu para que fosse considerado um gênio da dramaturgia. Mas os dois personagens, Benedicto e Beatriz, roubam a cena, pela elevada espirituosidade que demonstram em tudo o que fazem, o que nos faz pensar no quase trágico cenário político que estamos vivendo. Estamos à espera de um personagem suficientemente espirituoso que venha roubar a cena e nos dar um lampejo de esperança.

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