Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

O Bem Amado é uma peça de Dias Gomes, escrita em 1962. Conta os dias de governo do prefeito de Sucupira, uma cidade fictícia situada na Bahia, o bem amado Odorico Paraguaçu.

Odorico se elege prefeito com a promessa de construir o cemitério municipal, para que os seus concidadãos possam ser enterrados em sua terra natal e não terem que ser transportados para o campo santo de outra cidade.

Assim ele consegue se eleger e não mede esforços para que o campo santo seja construído. Usa todos os recursos da cidade, deixando a prefeitura endividada. Construído o cemitério, Odorico promete a inauguração com o primeiro enterro, e aí se dá o problema: ninguém morre em Sucupira.

Com a oposição no seu pé, Odorico sai numa busca desenfreada por um defunto, trás pra cidade um doente desenganado, um matador dos mais terríveis, mas nada disso resolve.

Há um humor muito bem construído em torno do personagem de Odorico, um dos mais fantásticos do teatro brasileiro, fruto da habilidade incontestável de Dias Gomes. Porém, quando olhamos pelo prisma da nossa política, vemos que há nele o retrato das nossas pessoas públicas, desesperadas em se manter no poder, custe o que custar. Temos a nossa frente hoje outro desesperado, que coloca o país em liquidação, distribui entre os seus o que retira dos oprimidos. Só que ao contrário do carismático Odorico, ele não é nada bem amado.

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Quando o povo precisa reagir

Por Alex Ribeiro

Os Fuzis da Senhora Carrar é uma peça de Bertolt Brecht que se passa durante a Guerra Civil espanhola, em 1936. Narra o momento em que a guerra se aproxima da casa da família Carrar.

Não querendo que os filhos tenham o mesmo destino do pai, a Senhora Carrar insiste para que eles não vão para a linha de frente, combater as tropas do general Franco. O filho mais velho, ela manda ir pescar, enquanto o mais novo fica com ela, em casa.

A vizinhança exerce um papel de pressão sobre a casa dos Carrar, cujos homens – os dois filhos – são os únicos que não partiram para a batalha. Mesmo a figura do Padre, que é contrário à ida à guerra, não consegue mostrar forte oposição ao comportamento da vizinhança. A chegada do Operário, irmão da Senhora Carrar, para buscar os fuzis do falecido cunhado, deixa o clima ainda mais tenso para a matriarca.

Todo o discurso de paz e não luta da Senhora Carrar cai por terra quando o filho mais velho é assassinado gratuitamente por tropas do general Franco enquanto  pescava. Nesse momento, até ela, partidária da paz, pega em armas.

O que será que Brecht quis dizer? Que não há como fugir da violência? Talvez não seja bem por aí, já que sabemos que sempre há caminhos para se evitar a violência. Apostaria, portanto, na hipótese de que ele quis mostrar que um governo tirano não mede esforços para se manter no poder, mesmo que para isso custe arrasar o país e subjugar o seu povo. Nos desmandos do poder, o povo é apenas um detalhe e se esse povo não se mover, será aniquilado. Algo que se encaixe no quadro atual do Brasil? Todos nós já percebemos.

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