Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Alex Ribeiro

Essa noite você foi embora
Sem ouvir o que eu dizia
Você se cansou tão rápido
O tempo é que passa devagar

Nem sei dizer sobre o amor
Se ele também já partiu
Em mil pedaços de solidão
Espalhados por toda casa

Nos minutos eternos que vieram
Uma trilha sonora amarga
Pulsava dentro de mim
Tudo parece tão frágil, você disse
A fragilidade sou eu

Tempestivamente me vem
Uma vontade de ir embora.
Mas eu não fui embora.
Fiquei
Fiquei a ver navios que sempre partem.

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Por Alex Ribeiro

A Ceia dos Cardeais é uma peça do escritor português Júlio Dantas, concebida em 1902. É sua obra teatral mais famosa e, consequentemente, uma das peças portuguesas mais importantes do início do século XX. Foi traduzida para diversos idiomas, sendo montada em palcos de toda Europa e América do Sul. Suas estreias sempre contaram com sucesso estrondoso, fazendo com que companhias de teatro do mundo todo desejassem levar A Ceia dos Cardeais para os mais diversos palcos, devido à sua popularidade e ao já citado sucesso, amplamente conhecidos. No Brasil, grandes artistas do teatro já assinaram seus nomes no elenco e direção da peça. E fato curioso é que, na morte do ator Raul Cortez, em 2006, a TV Cultura alterou sua programação para transmitir A Ceia dos Cardeais, para prestar homenagem a um dos atores mais importantes do Brasil. Naquela montagem, Raul Cortez dava vida ao cardeal espanhol de nome Rufo, um dos três personagens da peça de Dantas. Mas A Ceia não é um produto cultural isolado de Júlio Dantas. Pode ter sido sua obra de maior sucesso, mas o autor português não pode ser reduzido apenas a isso. Dantas teve uma vida imersa em produções literárias, passando por romances, poesia, teatro, traduções e ensaios e, além disso, por uma intensa vida política, exercendo cargos dos mais diversos, como, por exemplo, o de deputado e, já na segunda metade do século XX, também o de embaixador de Portugal no Brasil.

Dantas traz ao palco três cardeais que se encontram numa sala luxuosa do Vaticano, durante o papado de Bento XIV. São eles de três localidades da Europa. Cardeal Gonzaga, de Portugal, Cardeal Rufo, da Espanha, e Cardeal Montmorency, da França. E se preparam para um jantar que é tão luxuoso quanto a sala em que se encontram. Enquanto vão se preparando para o banquete, Cardeal Rufo e Cardeal Montmorency discutem a respeito de figuras importantes da França e da Espanha, e como de alguma forma essas figuras influenciaram os papas que entraram em contato com elas. A discussão por vezes se acalora, e é o Cardeal Gonzaga quem trata de chamar os dois amigos de volta à tranquilidade.

Mas o ponto alto da peça vem justamente do momento seguinte ao da conversa de Rufo e Montmorency, quando os três anciãos vão relembrando suas respectivas histórias de amor, vividas intensamente em suas respectivas juventudes, deixando marcas inesquecíveis em cada um deles. Um amor corajoso, capaz de enfrentar inúmeros inimigos pela honra da amada, surge nas lembranças de Rufo. Um amor sedutor, capaz de conquistar a mais arredia das damas, surge nas palavras doces do francês Montmorency. E, por último, revelando e exaltando o romantismo português, o já octogenário Cardeal Gonzaga fala do seu amor singelo e inocente, amor este nascido precocemente nos seus primeiros anos de vida, mas que morrera, também precocemente, junto com sua infanta amada. Por fim, os outros dois se rendem a singela história de amor do cardeal português.

A Ceia dos Cardeais se populariza não só por se tratar de uma peça que fala do amor, mas, sobretudo, por revelar amores impossíveis, e por isso inesquecíveis, em homens que optaram por uma vida que abdica do amor romântico, em busca de uma vida voltada para os ofícios sacerdotais. Talvez seja este o grande pulo do gato de Dantas ao escrever a peça. Revelar o amor romântico que parecia impossível de existir.

Em tempos como o nosso, questiona-se a importância de se levar ao palco uma peça que apresenta essa temática. Sempre soubemos que o teatro é o palco do grito de liberdade, e falar de amor parece-nos futilidade diante de tantas mazelas a que somos submetidos. Talvez, pelo contrário, seja justamente este o momento de falar de amor, visto que amar é uma atitude de resistência no atual cenário político e social do Brasil. A prática do amor passa, mais do que nunca, a nos ser necessária para que no futuro ele, o amor, não seja só uma mera lembrança de um tempo bom que não volta mais. Como as lembranças de um velho cardeal.

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Por Alex Ribeiro

Paixões devastadoras
Varreram meu peito
Por dezenas de vezes
Desoladas paixões
Sozinhas
Eu vivi

Quando em mim
Um mar calmo
Encontrei
Marasmo sem fim
Tão só
Mergulhei

Tu, numa solidão que era minha
Velada
Chegou, fez morada
Na minha estação
Avisando me disse
Fogo e gasolina, amigo…
Sem contestação

Desse peito em meu peito
A explosão prometida
Insana paixão
Proibida
Teus olhos descansando
Nos meus
Minha boca devorando
Teus lábios

Queimando
De dentro pra fora
Enquanto aqui
Você me devora

Paixão, minha paixão
Sua, nossa, combustão
Obra de arte, arte de ser
Nós dois juntos
Uma canção

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