Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Alex Ribeiro

Quão frágil é ser humano
Que ao mínimo abalo
A felicidade esvai-se
Perdida por entre os dedos

Quão longas se tornam as noites
Cuja insônia acometida
Perfurando os teus sonhos
Não te deixa repousar os olhos

Olhos estes de um vermelho carnal
Numa fonte de lágrimas
Que inundam e afogam
A alma e a voz, emudecidas

Que mão amiga há de resgatar?
Dar-te o fôlego, respiro
Acolhendo numa escuta, espera
O momento certo de levantar

Que força é essa que há no amor
Que estende a mão na adversidade
Que ampara, abraça, beija e demora
Mas que não pode ficar

Quão frágil ser tão humano
Equilibrar-se na efemeridade
Entre amar e ser amado
Entre partir e ser deixado.

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

A Tragédia do Rei Christophe é uma peça escrita pelo dramaturgo colombiano Enrique de Buenaventura, e foi a primeira peça a vencer o Concurso Latino-Americano de Obras Dramáticas, concurso este realizado entre 1961 e 1962. Conta a história do ex-escravo haitiano Henri Christophe, que se torna presidente em 1807 e se autoproclama rei em 1811, reinando sobre aquele país até 1820. Fato interessante sobre essa peça é que, no mesmo período, o dramaturgo francês Aimé Césaire criou um texto de mesmo nome, tendo como mote dramático a vida do mesmo personagem histórico haitiano. As coincidências sobre os dois autores não se encerram nesse fato. Ambos têm forte influência do teatro de Bertolt Brecht, e buscam fazer de suas respectivas peças o agente de “conscientização” política e social do público. Buenaventura também recebeu influência de dois brasileiros importantes, Augusto Boal e Paulo Freire. A figura de Christophe é o exemplo perfeito para os objetivos de Buenaventura, já que após lutar pela abolição da escravatura e também pela independência do Haiti, ele trama contra o imperador e se torna o Rei e, também, um exímio tirano. É a concretização do pensamento freiriano, o de que “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”.

Christophe era escravo de um hotel, donde tinha que assistir ao deleite dos donos de escravos que por ali passavam, e que reagiam com violência aos negros, aos abolicionistas e aos republicanos. Após comprar sua própria liberdade, ele entra na luta do povo haitiano por liberdade da colônia francesa e pelo fim da escravatura. Após se destacar nas batalhas lideradas por Jean-Jacques Dessalines, ele se torna general.

Dessalines consegue a proclamação da independência e se coroa rei. Poucos anos mais tarde, Dessalines é assassinado e Christophe é eleito presidente. Nos primeiros anos de seu governo, ele resolve dar um golpe e se proclama rei. Com punhos de ferro, ele explora seu povo para a construção da Citadelle Laferrière, mas isso lhe custa o apoio do seu povo. Pouco a pouco, vê-se abandonado pelos seus e em meio a uma revolução que pretende destroná-lo, ele se suicida.

Christophe é um exemplo claro da análise de Paulo Freire. Se apega ao poder de tal maneira que não mede ações para se manter nele. Mesmo tendo construído um dos mais importantes castelos do Haiti, não deixou de explorar seu povo. Aquilo contra o qual ele lutara para livrar seu país é a coisa em que ele mesmo se transforma. A mão que oprime o povo haitiano. Ainda nessa obsessão, ele não permite que o poder lhe escape das mãos e, estando já com a saúde debilitada, tira a sua vida com uma bala de prata. Seu corpo é fundido ao cimento da Cidadela, como havia ele sonhado dias antes de morrer.

Buenaventura desenha aquilo que se tornaria a América naqueles anos. Onde várias ditaduras militares se instalaram pelo sul do continente, levando seu povo a sofrer nas mãos de despóticos ditadores. Talvez, nesses dias atuais desse Brasil sem rumo, o teatro deva assumir sua persona brechtiana, e trazer à tona as cenas lúcidas de um Buenaventura ou de um Boal. É o teatro assumindo a sua maior potencialidade. A de ser agente de mudança social no seu público. Um teatro sem medo de ser teatro.

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Alex Ribeiro

Ah, poema
Salva-me do naufrágio em mim mesmo
Salva-me desse mar de angústia
Dessa noite tão fria.

Tu, de quem tenho esperado um abraço
Que me ouve sem especular
Que ouve no mais íntimo
Para além do simples escutar

Traz-me tuas palavras sinceras
Poucas
Palavras que me deixam gritar
No silêncio da minha boca

Ah, poema
Tu, que és minha voz e meu canto
Minha companhia em completa solidão
Tu que és, não uma mentira,
Mas uma doce sedução

Dá-me vez, meu querido verso
Para que eu possa chorar
No mais íntimo jardim
Donde nasce a flor humana
Tão fraca, tão frágil
Perdida no olhar profundo
De um menino esquecido
Que um dia
Teve um sonho de poeta