Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Poesia

Por Alex Ribeiro

Tão pequena aquela menina
Que saiu do interior, do dia-a-dia
De ser sempre prendada
De lapidar a dona de casa

Foi pra cidade grande
Onde o progresso se expande
Sem saber como lá é
Mas com o peito cheio de fé

Nunca vira o céu cinzento
Tal como daquele cruzamento
Um cruzamento tão famoso
Que ela ouvira com Caetano Veloso

Na metrópole quis florescer
Um universo diferente conhecer
Ter no seu ser delicado
Um conhecimento jamais esperado

Mas encontrou muito mais
Grandes desigualdades sociais
Muitos corpos para todo lado
Sem coração, ou com ele gelado

Em certas noites se encolhia num canto
Onde corria um riacho de pranto
A saudade batia num bumbo febril
Que repulsa desse mundo tão vil

Às vezes parava sob o pergolado
Olhando aquele trânsito parado
Imaginava um trem chegar na estação
Levando-a pra Minas num só coração

Toda noite sonhava a Neide Maria
Com amanhecer melhor o outro dia
E assim levava com esperança
Ou saudade do tempo de criança.

Publicado em Categorias Nossos Espetáculos, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

O Ciúme da Ciumenta é um esquete teatral de Antônio Roberto Gerin, escrito em 2017. Este esquete é mais um recorte de vida do cotidiano de um casal, Sonsino e Pacífica, que se transforma, primeiro em palavras, na bela literatura de Antônio Roberto Gerin, e depois em cena teatral, compondo juntamente com A Mulher do Marido e O Casamento do Marido, o espetáculo Até que o Amor nos Separe. Este espetáculo tem estreia marcada para o dia 8 de fevereiro de 2019, no Teatro Goldoni, com direção do mesmo Antônio Roberto Gerin, e no elenco Alex Ribeiro e Leivison Silva. Nesse belo esquete, vemos revelada mais uma noite do nosso casal de protagonistas, que vivem dividindo o espaço do lar com um hóspede invisível, porém, nada silencioso, o ciúme.

Sonsino, após uma noitada de cervejas com os amigos, entra em casa às duas horas da madrugada e encontra pela frente sua mulher, Pacífica, furiosa. Ela já sabe que no porta-luvas do carro do marido tem uma calcinha. Tomada de descontrolado ciúme, faz de tudo para que o marido lhe entregue a chave do carro, para que ela possa ir verificar se a denúncia, que a consome, é verdadeira. O marido nega a existência de qualquer peça íntima feminina em seu carro, mas, mesmo negando, recusa-se a entregar a chave. Se nada deve, por que não entregar a chave e acabar logo com essa discussão?

O ciúme de Pacífica, como todo ciúme, faz com que ela rememore várias falhas e deslizes de Sonsino, que, por sua vez, nega de forma tão veemente que é quase impossível ao público se posicionar e torcer para um ou outro. Ao mesmo tempo, Pacífica não parece acreditar no que diz seu marido, e mais, não parece acreditar que ele tenha coragem de negar os fatos levantados por ela. Será mentira o que diz Sonsino? Será exagero a forma com que Pacífica acusa o marido? Aí está o segredo do humor leve e ácido que Antônio Roberto Gerin constrói no texto, dando aos atores não só a possibilidade de encenarem bons personagens, mas também de se divertirem com eles.

Além das peripécias do casal Sonsino e Pacífica, apresentados aqui nessa resenha, o esquete não deixa de ter uma veia dramática consistente, o que dá aos personagens e à situação uma sensação de realidade muito forte. Essa sensação permite que identifiquemos Sonsinos e Pacíficas num vizinho, amigo, parente ou até em nós mesmos. Mas, calma, caro leitor, pois aqui tudo é tratado com leveza e humor, deixando o esquete divertido e agradável, mesmo que se vejam nele a vida de muitos casais. A relação a dois sempre tem lá seus conflitos. Portanto, se é o ridículo a dois que nos é mostrado, vamos rir, também, a dois. Mesmo que seja com uma pulga atrás da orelha.

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.

A Mulher do Marido faz parte do espetáculo Até que o Amor nos Separe, que estreou dia 8 de fevereiro de 2019, no Teatro Goldoni.

Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Nossos Espetáculos, Resenhas, Teatro

Por Alex Ribeiro

Esquete teatral de Antônio Roberto Gerin, A Mulher do Marido foi escrito em meados do ano de 2016, e é o sétimo texto do dramaturgo neste formato,  que também pode ser chamado de cena curta. Os esquetes teatrais de Gerin tem como característica se constituírem de um recorte do cotidiano dos seus personagens, que rapidamente revelam ao público e aos leitores situações diversas, desde o riso absurdo à apreensão de um conflito dramático. Muita das vezes, os personagens apenas continuam suas vidas como se aquele trecho cênico não passasse de um mero fato cotidiano em suas rotinas. Assim também acontece com o casal de A Mulher do Marido, que vem trazer ao palco situações inusitadas que acabam por se tornarem pretexto para revelar quem são esses dois personagens, que se intercalam entre o amor e o ódio que sentem um pelo outro.

Após ter sido abandonada pelo noivo, Alberto, que se casa com sua melhor amiga, Cândida vê agora seu desejo de vingança realizado. A ex-amiga Verônica trai Alberto, que descobre a traição e, após muita pancadaria, pede a separação. Cândida, ao telefone, feliz, manda seu atual marido, Cornélio, por quem nutre profundo desprezo, comprar duas garrafas de vinho para comemorarem a notícia.

A partir disso começam a se revelar quem são os dois personagens. Uma Cândida que destila todo seu ódio por Verônica,  e que acaba descontando suas frustrações no marido, e um Cornélio completamente submisso aos desejos de sua mulher. Um casal que se complementa em suas fragilidades imersas em mágoas e mentiras. Um prato cheio para o conflito. O amor resistirá a tanta dor? Mas, afinal, é amor isso que une Cândida e Cornélio?

A Mulher do Marido vem trazer aos palcos, com humor ácido, o poder da mágoa, e como podem ser tóxicas algumas relações de casal e, mesmo, de amizade. Enquanto Cândida sonha com o namorado perdido, Cornélio parece assistir a tudo passivamente. Não teria ele nenhum segredo a esconder? É dessa forma que Antônio Roberto Gerin brinca com seus personagens, revelando suas dores e segredos, com a pitada do bom humor que é o tempero ideal para dar leveza ao esquete. Afinal, caro leitor, com nossos segredos revelados, o que nos resta além das lágrimas? Rir.

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.

A Mulher do Marido faz parte do espetáculo Até que o Amor nos Separe, que estreou dia 8 de fevereiro de 2019, no Teatro Goldoni.