A Dama do Mar

Por Alex Ribeiro

A Dama do Mar é uma peça de Ibsen, escrita em 1888. Essa peça é considerada, pelos críticos de Ibsen, a sua peça mais poética. Sendo Ibsen reconhecido como o maior dramaturgo da Noruega e um dos maiores na Europa, desde Shakespeare, a peça já foi montada inúmeras vezes em todo mundo, inclusive no Brasil, além de ter recebido duas adaptações para o cinema.

A Dama do Mar conta a história de Élida, segunda esposa do Dr. Wangel, que vive numa pequena cidade balneária da Noruega. Não se sentindo pertencente à família de Wangel, pai de duas filhas já moças, Élida vive infeliz. Todos os dias ela toma banho de mar no fiorde, uma grande entrada de mar entre altas montanhas rochosas, para tentar se manter conectada à imensidão do mar. Isso se dá porque ela nasceu e viveu por muito tempo no litoral, onde o mar se apresentava em toda sua vastidão e, de certa forma, simbolizava a liberdade.

Antes de conhecer Wangel, Élida havia se comprometido com um marinheiro que passara pela sua cidade natal, Skjoldviken, e que partira em um navio, sem previsão de retorno. Mesmo tendo ela rompido com o marinheiro através de cartas, ele vem procurá-la. Ela sente uma atração irresistível por ele, como se fosse a liberdade chamando-a. Acredita que está fadada a se entregar a ele. Por fim, Dr. Wangel consegue reconquistar Élida, dando-lhe a liberdade para escolher entre ficar ou partir.

Muito se diz sobre os símbolos que Ibsen colocou na peça. Que por detrás das palavras há sempre um sentido oculto. Mas dá pra perceber como ele opõe o que é concreto, o casamento com Wangel, ao determinismo místico presente no marinheiro, ao qual Élida acreditava estar destinada. Tudo se resolve quando a ela é dado o livre arbítrio. Ibsen foi muito influenciado pela onda científica da sua época, e pode ser essa uma das metáforas da peça, a de que o determinismo ficara no passado.

Hoje, 130 anos depois, quem sabe pensaríamos diferente. Talvez quiséssemos que Élida decidisse voltar para o mar, que sempre lhe foi fascinante, se lançar na imensidão, se aventurar. É possível para nós imaginarmos uma Élida leve, que sente o frescor dos ventos marítimos tocando suavemente seu rosto numa manhã ensolarada. Esse parecia ser seu desejo mais íntimo. Entregar-se ao irresistível poder do mar.

Não se trata de uma volta ao misticismo, e sim de uma ode à liberdade. A desgastante rotina, a qual estamos acostumados, e os novos papéis assumidos pela mulher, trazendo-lhe autonomia e liberdade, podem nos fazer crer que ela deveria abandonar tudo e partir com o marinheiro. Mas Ibsen provavelmente sorriria desse nosso desejo por liberdade. E faz questão de mostrar que, estando livre, Élida pode escolher partir, como também escolher ficar. E ela escolheu ficar. Ela ou Ibsen?

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Autor: Alex Ribeiro

Ator da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto, psicólogo, poeta.

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