The Pillowman

Por Leivison Silva

The Pillowman é uma peça em três atos, escrita pelo premiado dramaturgo e cineasta britânico Martin McDonagh – diretor de “Três Anúncios para um Crime”, que concorreu ao Oscar 2018, na categoria melhor filme. Embora tenha sido lançada em 2003, uma primeira versão de The Pillowman já havia ganhado uma leitura dramática pública, em 1995. Em 2004, The Pillowman recebeu o Prêmio Lawrence Olivier de melhor peça inédita, prêmio este que é entregue anualmente pela Society of London Theatre e que é considerado a maior honraria do teatro britânico – equivalente ao Prêmio Molière, na França.

The Pillowman conta a história de Katurian, um escritor de contos de terror que é preso pela polícia de um Estado autoritário não identificado, sob a alegação inicial de subversão política. Logo no começo da narrativa, é revelado o verdadeiro motivo da prisão. Katurian é o principal suspeito de ter torturado e matado algumas crianças, uma vez que os assassinatos reproduziam fielmente o que era narrado em alguns dos seus contos.

O escritor é interrogado pelos detetives Ariel e Tupolski que, durante o interrogatório, contam a Katurian que seu irmão autista, Michal, também fora preso. E que, após ter sido torturado, havia acusado Katurian dos assassinatos. Katurian desespera-se ao pensar no que os detetives podem ter feito com seu irmão e, mesmo sendo inocente, decide assumir a autoria dos assassinatos, contanto que suas histórias, que haviam sido apreendidas pela polícia e pelas quais ele nutre um amor obsessivo, não sejam destruídas.

Ao longo da peça, alguns dos contos de Katurian são narrados e encenados, justamente aqueles que inspiraram os assassinatos, dentre eles o conto “The Pillowman”, que dá nome à peça. E na linha narrativa do texto, surge o conto autobiográfico “O escritor e seu irmão”, com o objetivo de revelar fatos perturbadores da infância de Katurian e Michal.

The Pillowman é uma obra angustiante, perturbadora, sombria, macabra até, com doses generosas de humor negro que exige, num primeiro momento, estômago para quem o lê. A tensão é mantida em alta voltagem em praticamente toda a peça, e o texto não é nem um pouco sutil ao descrever, com riqueza de detalhes, torturas físicas e psicológicas, além de falar, sem eufemismos, do quão criativa e perversa pode ser a crueldade humana.

No entanto, passado o impacto inicial, é possível perceber que a peça fala também do amor pela escrita e da necessidade que os seres humanos têm de contar histórias e, através delas, eternizarem-se. “O primeiro dever do contador de histórias é contar histórias”, fala Katurian, no começo da peça, deixando bem claro que The Pillowman é mais do que uma peça de terror. É quase uma celebração da arte da contação de histórias que acompanha a humanidade desde épocas remotas. O amor obsessivo que Katurian tem pela escrita é tão grande que ele não hesita em sacrificar sua vida e a de seu irmão em troca da preservação da sua obra literária.

The Pillowman é daquelas peças que você pode amar ou odiar à primeira vista, mas nunca ficar indiferente a ela, tamanha sua intensidade e força.

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin.

Autor: Leivison Silva

Ator da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto. Cantor lírico formado no Curso Básico de Canto Erudito da Escola de Música de Brasília, com realização de trabalhos no teatro, no cinema e na música. Iniciado na arte da palhaçaria – seu palhaço chama-se Josephyno.

Deixe um comentário