Publicado em Categorias Cultura, Literatura, Nossos Espetáculos, Resenhas, Teatro

O título Até que o Amor nos Separe não se trata de um título de peça de teatro, no caso, de texto teatral, trata-se, antes, do título do espetáculo que esteve em cartaz no Teatro Goldoni,  no mês de fevereiro, e agora retorna em nova temporada, no Teatro Brasília Shopping, nos dias 16, 17, 23 e 24 de março de 2019, e que reúne três esquetes teatrais de autoria de Antônio Roberto Gerin, sendo que estes esquetes se intitulam, na ordem, A Mulher do Marido, O Casamento do Marido e, encerrando o espetáculo, O Ciúme da Ciumenta. Já fica estampado de cara que, pelos títulos dos textos, temos uma temática em comum, que é falar das relações de casamento de casais que se digladiam entre o amor e o desamor, numa luta insana e perpétua, pelo menos perpétua enquanto durar o casamento. E não há indícios claros de que o casamento vá terminar. Talvez este seja o suspense que sustenta a agonia de relações prestes a se desmoronarem. Terminamos ou não terminamos? Não, ainda não é hora de fazer as malas. Ainda resta uma esperança. Que esperança? O amor. Ah, sim, o amor! Foi onde tudo começou, no amor, e mesmo que ele não mais exista – será? -, ele continua sendo uma miragem. Precisamos, para que o casamento não se desequilibre e caia no abismo, precisamos, sim, nos alimentarmos da ideia de que o amor pode reexistir. É uma chama invisível, mas que ainda não se apagou. Há, portanto, para o casal, a possibilidade de reacender esta chama. E é quando, reacendida a esperança, seja por uma fotografia, uma lembrança, um jantar, o casal poderá olhar para o casamento e ter a quase certeza de que o amor ainda resiste, se não para uni-los, pelo menos para evitar a separação.

Leivison Silva, como Cândida, e Alex Ribeiro, como Cornélio, em A Mulher do Marido, 2019.

São três os esquetes teatrais, como dito. O primeiro conta a relação de Cândida com seu marido Cornélio. Cândida fora abandonada pelo antigo noivo, Alberto, já que este se casa com Verônica, a melhor amiga da traída Cândida. Cândida então se casa com Cornélio, homem de índole boa, mas indeciso e de atitudes passivas. O esquete trata do momento em que Cândida vê seu desejo de vingança realizado. Alberto descobre que Verônica o trai, e após muita pancadaria, ele pede a separação. É quando Cândida telefona para o marido e o obriga a comprar duas garrafas de vinho para comemorarem, em dose dupla, a tão esperada notícia.

O Casamento do Marido, esquete de Antônio Roberto Gerin. Leivison Silva, como Poderosina, e Alex Ribeiro, como Crueldino, em 2019.

O segundo esquete traz Poderosina, uma mulher que sabe o que quer e não mede esforços para levar o jogo de poder às últimas consequências. E seu interesse é tão somente um. Manter o casamento. Para tanto, usa a tática de comemorar datas especiais como forma de reencontrar o perdido romantismo. Diante das rebeldias e grosserias do marido, Crueldino, que trata o casamento como se fosse o último dos infernos, Poderosina traz revelações inesperadas, o que impossibilita a Crueldino concretizar sua decisão de se separar.

Sentado Alex Ribeiro, como Sonsino, e em pé Leivison Silva, como Pacífica.

E o terceiro esquete. Sonsino, após mais uma noitada de cervejas com os amigos, e as amigas, entra em casa às duas horas da manhã e encontra a mulher, Pacífica, furiosa. Ela já sabe que no porta-luvas do carro do marido tem uma calcinha. Mas Sonsino não lhe entrega a chave do carro para que ela desça e se certifique da prova da traição. Sonsino nega tudo, até fotografia. Mas mesmo negando, recusa-se a entregar a chave. Por quê?

Não existe relação a um. E muito menos relação fracassada em que o culpado seja um. Se é relação amorosa, será sempre a dois, com os bônus e os ônus. Mas, pela cultura e por tudo que é milenar na relação homem e mulher, as diferenças de forças e de papeis estarão pré-estabelecidas. Óbvio, esse jogo se estende para todos os gêneros. Falamos aqui de homem e mulher por se tratar de casais héteros. A tônica do que se verá no palco não é essencialmente o machismo. E muito menos o empoderamento feminino. O que se verá é algo real, realíssimo, que é quando o homem e a mulher se fazem humanos, portanto, frágeis. É disto que trata o espetáculo. Na busca da felicidade, nos fragilizamos. A dois.

Cia de Teatro Assisto Porque Gosto

Clique aqui para conhecer os textos teatrais de Antônio Roberto Gerin, dramaturgo da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto.

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Por Alex Ribeiro

Esquete teatral de Antônio Roberto Gerin, A Mulher do Marido foi escrito em meados do ano de 2016, e é o sétimo texto do dramaturgo neste formato,  que também pode ser chamado de cena curta. Os esquetes teatrais de Gerin tem como característica se constituírem de um recorte do cotidiano dos seus personagens, que rapidamente revelam ao público e aos leitores situações diversas, desde o riso absurdo à apreensão de um conflito dramático. Muita das vezes, os personagens apenas continuam suas vidas como se aquele trecho cênico não passasse de um mero fato cotidiano em suas rotinas. Assim também acontece com o casal de A Mulher do Marido, que vem trazer ao palco situações inusitadas que acabam por se tornarem pretexto para revelar quem são esses dois personagens, que se intercalam entre o amor e o ódio que sentem um pelo outro.

Após ter sido abandonada pelo noivo, Alberto, que se casa com sua melhor amiga, Cândida vê agora seu desejo de vingança realizado. A ex-amiga Verônica trai Alberto, que descobre a traição e, após muita pancadaria, pede a separação. Cândida, ao telefone, feliz, manda seu atual marido, Cornélio, por quem nutre profundo desprezo, comprar duas garrafas de vinho para comemorarem a notícia.

A partir disso começam a se revelar quem são os dois personagens. Uma Cândida que destila todo seu ódio por Verônica,  e que acaba descontando suas frustrações no marido, e um Cornélio completamente submisso aos desejos de sua mulher. Um casal que se complementa em suas fragilidades imersas em mágoas e mentiras. Um prato cheio para o conflito. O amor resistirá a tanta dor? Mas, afinal, é amor isso que une Cândida e Cornélio?

A Mulher do Marido vem trazer aos palcos, com humor ácido, o poder da mágoa, e como podem ser tóxicas algumas relações de casal e, mesmo, de amizade. Enquanto Cândida sonha com o namorado perdido, Cornélio parece assistir a tudo passivamente. Não teria ele nenhum segredo a esconder? É dessa forma que Antônio Roberto Gerin brinca com seus personagens, revelando suas dores e segredos, com a pitada do bom humor que é o tempero ideal para dar leveza ao esquete. Afinal, caro leitor, com nossos segredos revelados, o que nos resta além das lágrimas? Rir.

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A Mulher do Marido faz parte do espetáculo Até que o Amor nos Separe, que estreou dia 8 de fevereiro de 2019, no Teatro Goldoni.